John Waters é um cineasta estadunidense que teve destaque na década de 70 com filmes extremamente transgressivos de cunho trash que, depois de um tempo, foram alçados a um patamar ‘cult’.

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Danny Mills e Divine em cena de Pink Flamingos

Waters nasceu em Baltimore numa família católica de classe-média e cresceu em Lutherville, subúrbio da cidade. Seu amigo de infância, Harris Glenn Milstead, posteriormente se transformou em Divine, sua musa e constante colaboradora.

Aos 7 anos John começou a se interessar por fantoches depois de assistir ao filme Lili e, partindo dessa influência, começou a encenar em festas infantis versões violentas de Punch & Judy, um popular teatro de fantoches.

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Cena do filme “Lili”, do diretor Charles Walters, grande influência no trabalho de Waters

Após se formar no ensino médio, Waters chegou a se matricular na New York University (NYU), porém a universidade não era o que passava pela cabeça do cineasta na época.

Em entrevista ele diz: NYU… Eu fiquei lá por pouco tempo. Não sei o que estava pensando. Eu fui a uma aula e eles ficavam falando sobre Potemkin (referência ao filme ‘O Encouraçado Potemkin’, de Sergei Eisenstein) e eu não queria falar sobre isso. Eu tinha acabado de ver “Olga’s House of Shame” (não me arrisco a descrever, veja você mesmo clicando aqui), era aquilo que me interessava mais.

Segundo o cineasta, diretores como Rainer Werner FassbinderFederico Fellini e Ingmar Bergman são grandes influências no seu trabalho. Ele também se diz amante de filmes artísticos pretensiosos, mas sem dispensar os escrachados.

olgas_house_of_shame_poster_01Pôster do filme “Olga’s House of shame”, de Joseph P. Mawra, que mostra o que Freud só insinuou

O primeiro filme de John Waters foi o curta-metragem Hag in a Black Leather Jacket (1964), apresentado apenas uma vez em um café beatnik na cidade de Baltimore.

Em Janeiro de 1966, Waters foi pego fumando maconha com alguns amigos dentro da NYU, o que acarretou em sua expulsão dos dormitórios da universidade. Assim, o cineasta voltou para Baltimore onde finalizou seus próximos dois curtas-metragem, Roman Candles e Eat Your Makeup, seguidos de dois longas, os filmes Mondo Trasho e Multiple Maniacs.

YOUNG WATERS

Essas primeiras obras do diretor foram todas filmadas na área de Baltimore, figurando a trupe de atores locais conhecida como Dreamlanders, que além de Divine contava com Edith Masse, David Lochary, Susan Walsh entre outros.

Os filmes contavam com personagens exageradas ao extremo, diálogos absurdos e situações bizarras. A denominada “Trilogia Trash” do diretor (que este que vos escreve recomenda fortemente!) é composta por Pink Flamingos (1972), Female Trouble (1974) e Desperate Living (1977), uma violenta afronta aos bons costumes e à censura da época.

Só para você ver: em uma cena adicionada a Pink Flamingos, é mostrado um cachorro defecando e Divine, em seguida, comendo suas fezes. (Uma cena de um bom gosto fenômenal, né?)

Female Trouble (John Waters, 1974)
Cena de “Female Trouble”

A partir de Polyester (1981), os filmes do diretor passaram a ser menos controversos e mais mainstream. Em 1988, o diretor lançou Hairspray (também escrito por ele e último papel de Divine, que veio a falecer no mesmo ano) e em seguida, em 1990, dirigiu o filme Cry-Baby com Johnny Depp no elenco. Os dois filmes foram grande sucesso de público e crítica e depois foram transformados em musicais da Broadway.

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Johnny Depp em cena de “Cry-Baby”

Seus filmes mais recentes são Cecil Bem Demente (2000) – um trocadilho infame com o nome do cineasta Cecil B. DeMille –  e Clube dos Pervertidos (2004), menos expressivos que os produzidos pelo diretor nas décadas de 70 e 80.

Homossexual assumido, nos últimos anos Waters vem sendo um grande apoiador da causa LGBT, além de também trabalhar como jornalista, artista plástico, ator e escritor.

John Waters é um artista que deixou sua marca definitiva no cinema por ter chutado a porta das boas maneiras e, também, por ter fugido subversivamente dos grandes estúdios para filmar o que desse na telha.

Para terminar, uma foto desse icônico casal que apavorou Hollywood.

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Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.