O Jazz é fantástico. Ele nasceu dentro da história americana e definiu pessoas e grupos durante toda sua ascensão. Por isso reservamos esse espaço para contar mais sobre sua história e fizemos de novembro o “Mês do Jazz”.

Então vamos começar.

Desde 1800, Nova Orleans era conhecido como o lugar mais musical dos Estados Unidos. Nessa época, apesar da proclamação do país de igualdade entre os homens, o local era o centro do tráfico de escravos. Os negros que chegavam para a função não sabiam a língua, não conheciam a comida e não conheciam o clima. Então tiveram que fazer algo que o Jazz viria a fazer muito: improvisar.

Por volta de 1817, foi permitido que os escravos cantassem e dançassem nas tardes de domingo em um lugar que denominaram “Congo Square”. Eles trouxeram suas bagagens culturais da África (percurssão forte), das Antilhas (pulsação caribenha) e também do interior do sul dos EUA (músicas de trabalho, hinos religiosos e cantos da Igreja Batista).

Nasceu nessa época a denominação “Creoles of Color”. Os creoles eram pessoas livres, cujos pais tinham uma mistura europeia com negros, que menosprezavam os negros de pele mais escura. Muitos deles tinham formação clássica.

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Em 1838 surgiu a moda de tocar trompete e corneta. E todo mundo, de todas as nacionalidades, estava tocando.

Na mesma época, surgiram os teatros que apresentavam músicas de menestréis. Eram interpretados por brancos que se vestiam e se pintavam de negros e até de negros imitando brancos vestidos de negros (para reforçar o estereótipo racial). Os menestréis foram o entretenimento mais popular dos EUA por 80 anos. Eles se espalharam pelo país inteiro; Eram todos ouvindo a mesma música, o mesmo humor.

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O primeiro sucesso deles foi interpretado pelo branco Daddy Rice, cuja música recebeu o nome de “Jim Crow”(nome de um negro que Rice ouviu cantando essa canção).

Com a Guerra Civil americana e a dissidência de Luisiana em 1861, que obrigou Nova Orleans a se render, a escravidão foi abolida e a ocupação da cidade caracterizou o nascimento da liberdade da população negra da cidade, impulsionando uma grande explosão criativa.

12 anos depois da guerra, houve o período da reconstrução (tropas ocuparam o sul para garantir direitos civis), que desmoronou em 1877 quando as tropas se retiraram. O Ku Klux Klan floresceu na época e todo aspecto da vida dos afro-americanos começou a ser segregado. Esse sistema ficou conhecido como “Jim Crow” (o mesmo nome do sucesso de Daddy Rice).

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Em 1890 dois estilos musicais chegaram a Nova Orleans e iriam influenciar o Jazz com muita força: o Ragtime e o Blues.

Criado por pianistas negros no centro-oeste, o Ragtime veio da influência de tudo que andava acontecendo na época. Tornou-se o estilo mais popular dos Estados Unidos pelos próximos 25 anos. Era música de jovens que queriam irritar seus pais.

O Blues desembarcou na cidade em uma leva constante de refugiados do Mississipi que tentavam escapar do “Jim Crow” com uma promessa de vida melhor. Os negros buscavam uma nova estética que os libertasse da fórmula e degradação dos menestréis.

O Blues tenta extrair sentido de uma situação que desafia sua capacidade de compreensão. É um estilo elástico, cuja simplicidade permite que muita coisa seja feita em cima de sua forma. Se baseia em 3 acordes em sequências de 12, formato que possibilita uma infinidade de variações. Ele envolve a técnica, mas muito mais uma sensibilidade especial.

Na época, as pessoas estavam apreciando os hinos de igreja e a melodia profana do Blues, o que era uma grande e interessante contradição, e quem sabia usar dela em sua música e uní-los podia representar anjos e demônios, esses sim sabiam fazer música.

No século seguinte o Blues seria a fonte que alimentaria todas as correntes musicais americanas, incluindo o Jazz.

Os Pioneiros

BUDDY BOLDEN

Bolden_band Buddy Bolden sentado à esquerda. 

Buddy Bolden nasceu em 1877, no período em que acabou a reconstrução. Ele foi o primeiro músico a tocar Jazz. Era um negro batista de pele muito escura, que imprimia forte personalidade à música que compunha em seu trompete.

Bolden foi o grande inventor da batida “Big Four”, conhecida por realçar a segunda e a quarta batida da marcha. Na quarta batida, o tambor e os pratos entram juntos. Isso permitiu que os músicos tomassem decisões durante a música para deixá-la mais forte. Aí o jazz começa a tomar forma e faz soar pessoal.

Em 1906, o trompetista era o músico negro mais conhecido de Nova Orleans e foi aclamado como “Rei Bolden”, muito querido no distrito de Storyville. Não tinha ninguém como ele em todo o país.

O auge de sua carreira coincidiu com os melhores anos de Storyville, todo mundo queria ir para lá e entender o que estava acontecendo.

Bolden bebia bastante e logo começou a ter alguns problemas psicológicos. Com o tempo, eles se tornaram cada vez mais fortes e Bolden passou o resto da vida longe de seu trompete no Manicômio Público da Luisiana.

JELLY ROLL MORTON

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Ferdinand Joseph Lamothe nasceu em Nova Orleans em 1890. Era um creole com grande atração pela boemia. Logo adolescente trabalhou em segredo em um prostíbulo tocando piano em Storyville.

Ele misturava o Ragtime com as canções dos menestréis e o Blues em um novo estilo improvisado, também usando a sutileza de Buddy Bolden e incorporando a sua música.

Ele era famoso por dizer que foi o inventor do Jazz, o que já sabemos que não é verdade, mas na realidade ele foi o primeiro a colocar suas composições no papel e muitas delas que se tornaram padrão no estilo.

Ele adotou o nome “Jelly Roll”que significava algo como o movimento erótico preferido de todas as pessoas.

Foi expulso de casa quando sua bisavó, que tomava conta dele, descobriu seu emprego secreto, e assim o músico se jogou na estrada e viajou por grande parte do país. Para ganhar dinheiro, se vestia de negro e incorporava o artista de vaudeville, também tentou jogos de azar, sinuca, trabalhar como cafetão e até vendia uma “cura milagrosa”para tuberculose de porta em porta (que na verdade era sal e coca-cola).

A música de Buddy Bolden e Jelly Row era chamada de “gut bucket”por uns, “hot music”por outros. O motivo do nome “Jazz” é uma grande dicussão, mas muitos diziam que viria do aroma dos perfumes de prostitutas de Storyville: jasmin, que sofreu modificação e adotou os dois “z” ao invés do “s”(já que este remetia a palavra “ass”).

Então novas estrelas começaram a surgir: Freddie Kepard, Kid Ory, Joe Oliver. E então nasceu o menino prodígio, cujo novo estilo agressivo impressionaria a todos nos próximos 50 anos: Sidney Bechet.

Música, música e música.