#Sinapse por Henrique Castilho

 

 

Um rapaz desabafa com seus três amigos sobre sua vida amorosa. Há meses não consegue conquistar ninguém, pois é muito tímido.

O outro retruca: “Ah! Para de ser bixa, Carlos!”.

Um terceiro faz uma cara tão emburrada que os outros param de rir na hora:

“Esteves, não acredito que você disse isso. Um cara tão bem sucedido na vida com uma mentalidade homofóbica dessa? Acho melhor todos nós pararmos de beber cerveja com você”.

Em outro lugar do Brasil, Cláudia desliga a TV pois uma personagem de sua novela comprou lingerie para chamar atenção de seu pretendente. Ela correu pro seu twitter: “nunca mais assistam Mulheres Perdidas! o roteirista é um tremendo sexista!”.

Saiu nas críticas de cinema de um grande jornal: “Não acredito que um diretor tão consagrado coloca crianças dirigindo um carro no seu filme. O que ele quer com isso? Adolescentes inconsequentes dirigindo pelas ruas da nossa cidade? Lastimável.”.

Por um motivo que desconheço, os receptores mudam quando estão vendo propaganda. Pode parecer um absurdo, mas não consigo responder por que um filme (ou programa, ou novela…) não tem as mesmas restrições impostas pelo Conar para propagandas de TV. Um comercial de cerveja que mostrasse crianças bebendo não duraria duas inserções no ar. Mas ok se um filme o faz.

Os próprios publicitários já criaram um critério para a propaganda, mas não conseguem explicar o motivo. Acredito que, no Brasil, onde se tem um mercado razoavelmente imaturo para a propaganda (não tanto quanto a Rússia, mas longe de ser o mercado inglês), as pessoas ainda vêem filmes publicitários com olhos de predador, qualquer brechinha é oportunidade de ataque. O próprio termo “propaganda” tem caráter pejorativo – não raramente vem acompanhado por “enganosa”.

Talvez as pessoas acreditem que a propaganda sirva pra manipular a cabeça do consumidor, e que tudo que vem dela pode ser poderoso. Defendo a acusação com um clichê das aulas de propaganda: se comerciais conseguissem fazer a cabeça das pessoas, todo mundo usaria camisinha, ninguém pegaria dengue nem pararia do lado esquerdo da escada rolante no metrô.

Será que um dia veremos uma propaganda de vodka com crianças passando mal na festa de 15 anos da colega de sala? Ou abriremos a veja e encontraremos um anúncio com a cara desse da Bentley?

 

 

Obs: esse post é inspirado no novo comercial da Marisa, nas suas acusações e na resposta dada por Sophie Schoenburg, redatora que o criou. Tá tudo hyperlinkado, é só ir clicando aí.

 

 

Quem souber as respostas comenta aqui embaixo. E não esquece de seguir o @NewronioESPM.

Henrique passa as manhãs dos dias de semana na ESPM, as tardes dos fim de semana tocando música e as noites de terça vendo a Portuguesa no Canindé.