Uma das pautas mais frequentes da contemporaneidade é como vivemos tempos em que tudo acontece e muda com uma rapidez difícil de se acompanhar. As identidades pessoais assim como o ambiente que as influenciam estão cada vez mais transitórios.
No universo da música não é diferente. Observa-se no final do século passado e começo desse o surgimento de incontáveis diferentes estilos musicais. Porém, para a grande maioria dos artistas no topo das paradas, principalmente dos anos 2000, definir suas imagens para se encaixar em rótulos parece ser mais importante que se preocupar com a experimentação de suas músicas.
Foi identificando essa realidade do cenário pop musical e buscando seguir a efemeridade dos rótulos identitários que nasceu o Gorillaz. Esse projeto musical mundialmente conhecido, cujos criadores são o ex-líder do Blur, Damon Albarn, e o artista de quadrinhos, Jamie Hewlett, tinha a ideia inicial de cunhar sua identidade de forma a se desencaixar dos milhares de gêneros existentes. A maneira como isso se concretizou foi a criação de uma banda virtual, que não existe em nosso mundo físico, cujos membros têm diferentes estilos uns dos outros, e, inclusive, possuem suas próprias biografias, como conferidas no livro lançado oficialmente pela banda, Rise of the Ogre.
O líder e baixista da banda é Murdoc Niccals, um cara meio reptiliano com um estilo de vida rock n’ roll e que possui ligações com demônios. 2-D é o vocalista e frontman, um jovem aparentemente normal, a não ser por seus cabelos naturalmente azuis, e que possui um aspecto meio depressivo. Noodle é uma garotinha importada do Japão, demandada pelos outros membros da banda para assumir o papel de guitarrista. E, por fim, mas não menos importante, o baterista é Russell Hobbs, que, como um bom nova-iorquino do Brooklyn, tem uma forte influência do rap.
Da mesma forma que o visual da banda procura fugir dos rótulos, sua musicalidade também evita essa obviedade. Transitando entre hip-hop, rock alternativo, música eletrônica, trip-hop, jazz, entre outros rítmos e estilos, pode-se notar essa variação musical ao comparar músicas como Clint Eastwood e Tomorrow Comes Today, ambas do primeiro álbum, homônimo à banda, ou analisando somente uma música, como Empire Ants, do álbum Plastic Beach. Essa característica reflete também nas parcerias da banda, que vão de Snoop Dogg a Lou Reed.
É sobre essa questão da desconstrução dos gêneros musicais provocada pelos Gorillaz que este video (em inglês) trata:
Um projeto musical inserido no cenário mainstream da música pop mundial que, desde 1998, traz como maior objetivo o de quebrar o paradigma dos limites entre os gêneros musicais mostra que, embora seja natural do ser humano criar rótulos para as coisas, no mundo da música – e da criatividade de modo geral – isso prejudica a experimentação e não faz mais sentido na realidade atual a qual passam-se os dias e, com eles, os gêneros.
Texto de Lucas Vigliar
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