Após comer mais um pão de queijo, na minha cabeça a conta já ultrapassava duas mãos, eu estava com o folhetim da programação do dia e estava ponderando em quais palestras eu iria durante minha estadia na cidade.

Entre elas me deparei com um certo dilema, pois ainda não fazia ideia sobre quais temas seriam mais pertinentes para os posts futuros. Infelizmente, no mesmo horário, duas palestras me roubaram a atenção, Vida e Obra de Euclides da Cunha, um dos homenageados do festival e Cala Boca já morreu: O poder das biografias brasileiras.

A segunda me soou mais pertinente com a situação que vivenciamos de alguns anos para cá, as biografias não autorizadas e a liberdade de expressão que permeia o mundo literário. O palestrante era o historiador, Clóvis Bulcão, conhecido por escrever romances históricos e biografias de grandes figuras da história como Princesa Leopoldina e Padre Antonio Vieira.

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Sua mais nova obra, Os Guinle: A História de Uma Dinastia, fala sobre uma das famílias mais influentes no Rio de Janeiro e no litoral sul do Brasil. Entre os grandes feitos dos Guinle vale ressaltar que a família construiu o porto de Santos, o Copacabana Palace, o palácio do Rio de Janeiro e são bastante associados à vida luxuosa do século XX.

A família é de imigrantes franceses que iniciou cedo no ramo das construções civis e por conta disso, passaram a conquistar muito espaço e fama no universo do empreendedorismo, da economia e do glamour.

Enquanto Clóvis estava contando alguns dos detalhes e motivos que o levaram a escrever o livro, pensava nos limites da privacidade daquela família, mas ao mesmo tempo o conteúdo dos livros não deixava de ser liberdade de expressão do autor e parte da história do nosso país.

Quando foi concedida a oportunidade de fazer perguntas ao palestrante, aproveitei para saber como que foi trabalhar essa questão da privacidade. Para ele, historiador, foi necessário ir atrás de todos os fatos possíveis antes de começar a escrever e preparar toda a narrativa do livro. Entre tantos membros da família Guinle, algumas histórias realmente ficaram de fora do livro, não apenas pro serem fofocas desnecessárias, mas porque não acrescentavam nada ao livro e o conteúdo que ele busca passar. O que permeia o livro de Clóvis é o conteúdo histórico, exclusivamente, e portanto, sua abordagem não busca trazer, em nenhum momento, maus olhares à família Guinle.

Trabalhar com biografias, principalmente de pessoas que ainda estão vivas, não é fácil, porém Clóvis gosta de ressaltar que o conteúdo deve aparecer nas páginas dos livros se, exclusivamente, for pertinente e relevante.

Com o pé na estrada e a cabeça na lua.