A última palestra que pude conferir na FLIPOÇOS foi com o historiador da arte e cineasta Pedro Ivo de Carvalho. O tema “A imagem em movimento e o movimento na imagem” é bastante pertinente em uma época que os gifs crescem cada vez mais, e como a humanidade busca, incansavelmente, imitar o movimento na arte.
Analisando a história da arte podemos observar algumas peculiaridades no próprio comportamento humano e como tentamos alimentar nosso imaginário com as manifestações artísticas desde o início da nossa espécie.
Uma das mais famosas pinturas rupestres conhecidas é a da caverna de Chauvet na França, retratada no documentário A Caverna dos Sonhos Esquecidos. Entre os 345 desenhos presentes na gruta, Pedro ressalta como algumas espécies dos animais ali representados, podem ser compreendidos como um grande grupo reunido, ou talvez, a própria representação do movimento de um mesmo animal.
Caverna de Chauvet, rinoceronte
Saltando das paredes das cavernas para os mármores gregos podemos perceber como essa necessidade de representar o movimento continuou a crescer, porém houve uma mudança na forma de demonstrar e interpretar essa mobilidade. As grandes esculturas passam essa noção do movimento através da geometria, visto que fora uma época que valorizou muito a ciência na arte, a precisão e a perfeição milimétrica.
Tesouro de Sífnos – 525 a.C.
Laocoonte e seus filhos – 40 a.C.
Já o renascimento buscou trabalhar mais com a harmonia em suas obras e por conta disso, a mobilidade mais exarcebada foi deixada um pouco de lado para trazer mais leveza às figuras retratadas, como as esculturas de David, tanto a de Michelangelo como a de Donatello. Em oposição à necessidade de harmonia por completo, o maneirismo e o barroco buscam retratar esse movimento através de contorções e ações bastantes visíveis.
Rapto das sabinas – 1581 – Giambologna, maneirista
David – 1623 – Bernini, barroco
Avançando ainda mais na história da arte, podemos perceber como o movimento futurista buscou sempre trabalhar a velocidade, dinâmica, não materialização e a repetição para representar o movimento nas obras.
Dinamismo de um Cão na Coleira – 1912 – Giacomo Balla
Essas técnicas utilizadas pelos futuristas surgiam como uma forma de competição com a fotografia que já beirava à tentativa de simular o movimento. Alguns fotógrafos, como Marey e Muyridge, começaram seus estudos do movimento tanto na França quanto no Reino Unido para tentar trazer a melhor representação da nossa realidade e da própria mudança de espaço ao longo do tempo.
Ensaio fotográfico de Marey na captura do movimento
Após milhares de anos vistos nos quadros e nas fotografias passamos para o cinema, que nasceu por esse fascínio do movimento em si. Assistimos ao filme, Um Homem com uma Câmera de 29 do diretor russo Dziga Vertov, em que ele retrata o cotidiano dos soviéticos. Por se tratar de um filme de exaltação do regime comunista, há uma forte necessidade de mostrar a ordem no trabalho e naquela sociedade. Alguns pontos são vistos como elementos de construção do próprio movimento: Vertov retrata, por longos takes, a essência do movimento e a sua importância em nossas vidas.
Ao final da palestra pude perceber toda a construção que a humanidade buscou retratar ao longo de seus momentos históricos. A nossa necessidade de simular o real é quase como intrínseca à nossa natureza, seja com pinturas rupestres, mármores gigantes, quadros maneiristas ou fotografia, e por conta disso, o cinema sempre foi inevitável.
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