Depois de uma viagem de quase 7h, metade do quarto livro da Fundação de Asimov e um duvidoso salgado de frango (gelado) com requeijão (invisível), chegamos em Paraty. Paraty com chuva, poças no asfalto, neblina no horizonte, nada do clima praieiro que se espera. À primeira vista, parece que não vai haver tanta vida nas ruas e vielas do centro velho. Mas não é bem assim.

Aos poucos as ruas vão se enchendo. Grupos de pessoas de todas as idades, famílias, jovens; todo tipo de gente tropeçando e se equilibrando nas pedras que pavimentam o centro da cidade. O francês invade nossos ouvidos pela direita, o espanhol pela esquerda, um inglês furtivo aqui e ali. Algumas palavras que ninguém foi mesmo capaz de advinhar de qual origem seriam. O clima do encontro sobre arte e cultura é, em si, um verdadeiro caldeirão de diversidade e riqueza cultural.

A Praça da Matriz, talvez o epicentro do evento, curiosamente localizado na margem oposta à Tenda dos Autores, onde as mesas acontecem, é tomada das letras coloridas, angulares e tridimensionais do homenageado desta edição, Millôr. Perde-se por entre as letras como que em uma capa ou ilustração do artista. Perde-se também nos cardápios e suas deliciosas ofertas gastronômicas.

Como que em um flashback de cinema, me vem à memória um certo choppe artesanal que tomei ali mesmo em um lugar pouco convencional: uma sorveteria. Como assim, choppe em sorveteria? Pois é. E não somente. A gelateria de raízes italianas faz jus à sua origem e também serve massas. Claro que por lá ficamos e, claro novamente, fomos levados a cometer o pecado da gula. O meu tinha sabor de pistache e de café e, caso meus quilogramas a mais não gerassem tanta culpa, não me importaria em comete-lo novamente.

No caminho de volta não consegui resistir e entrei em um empório e na livraria local. Ufa! Pelo menos da livraria consegui sair sem levar nada. Mas do empório… tirando as pimentas em conserva que me fizeram sair da rua (com destaque para vários vidros de Bhut Joloika, a pimenta mais forte do mundo), cachaças e licores locais (com destaque para a Paratiana, vencedora de um recente concurso mundial de destilados). Quando vi ali na prateleira um vermelho licor de pimenta, não resisti. Mesmo. Eu simplesmente TINHA que provar aquilo. E assim que provei sabia que ia levar uma garrafa das grandes. E a vendedora começa a explicar que fica ótimo como tempero para preparar peixe, que forma uma casquinha no forno… paguei e saí correndo: risco de acabar levando o estoque inteiro.

A volta para a pousada foi uma grande reflexão acerca de um dos aspectos mais importantes da feira: o que será o almoço amanhã? Opções interessantes não faltam. Aliás, abundam. Depois de um pouco de tempo e treino, aprende-se a separar os restaurantes cuja fachada (e o preço) se sobrepõe(m) à comida e encontra-se aqueles que mais são de meu interesse: aqueles que você quase não percebe que estão lá, mas o menu é diferente de tudo que você já viu e atiça a a curiosidade e a lombriga.

Parati em época de FLIP é a capital da curiosidade e da lombriga, se você quiser saber.

Minha barba. Minha vida.