Pra quem estava cansado da mesma velha opinião formada sobre tudo, o Festival Path é um sopro de frescor, são, como diz o nome, caminhos que se abrem para novos interesses e oportunidades. Talvez até para novos mundos.

O grande problema do mercado de agências no Brasil atualmente é que ele costuma olhar só para o próprio umbigo. O mesmo conjunto de marcas, de músicas, de filmes, de assuntos… O que já foi uma área de grande diversidade (imprescindível para a produção criativa) foi se tornando homogênea.

E o grande problema disso é que a igualdade entre um grupo vai afastando-o dos outros. Ele vai se tornando auto-suficiente. E a última coisa que a propaganda deveria ser é auto-suficiente.

Dizer que o mundo está mudando é uma coisa redundante já, mas as novas tecnologias estão começando a ser empregadas para buscar coisas que perdemos pelo caminho, seja com a migração para o mundo digital, seja ainda anterior, da migração do campo para a cidade.

A impressão que mais foi sentida durante o festival é algo que nos desenvolvemos para perder, e hoje lutamos para reconquistar: o senso de comunidade. Mais do que fazer parte de um grupo, esse senso de comunidade é ser capaz de se sentir seguro onde se vive, onde se trabalha, sabendo que todos ali estão empenhados em tornar a situação também de todos melhor.

Seja com o compartilhamento de conhecimento por meio das tecnologias Open Source, encontros abertos e livres pela cidade sobre todo tipo de assunto, ocupações urbanas, coletivos para fins sociais.

Estamos buscando retomar o contato que tínhamos uns com os outros antes do trabalho definir nossas vidas, antes do Facebook mediar nossas conversas, antes de trancarmos a porta de casa. Estamos, enfim, buscando transformar o espaço público não na zona de guerra que sempre imaginamos que fosse, mas em um espaço PÚBLICO, de todos nós e para todos nós.

E quer maior espaço público do que a própria internet?

Claro, há quem diga que a internet não é assim um lugar tão público (lembra desse post?). Mas o lugar de encontro e livre debate está lá e tem muita gente que o usa para o bem. O usa, inclusive, para transformar o mundo físico em volta dos pontos de contato com o digital.

Agora, pare pra pensar que qualquer telefone celular ou roteadores de wi-fi são pontos de contato: pode-se agir no digital para melhorar a cidade inteira. Seja no transporte público, na renovação de praças e terrenos antes esquecidos.

O que é algo bom: o jovem brasileiro, longe de ser um completo alienado político, apresenta grande insatisfação com a situação atual e muitos têm buscado meios para que algo seja feito. Por ser a primeira geração nativa do mundo digital, esse casamento de causa + redes sociais aparece como algo natural.

E isso é visto nos números e pesquisas; a Box 1824 divulgou no final do ano passado o projeto Sonho Brasileiro da Política, em que mapeou o comportamento e aspirações desses jovens interessados em mudar o país, bem como o cenário que estavam (e estão) construindo.

O ambiente empresarial também apresenta pequenas, mas belas, indicações de que está mudando. Um conceito bastante estudado no meio acadêmico e em design há anos é o de REDES. O sonho de todos os visionários é o de conseguir estabelecer uma rede de contatos/colaboradores/atividades que funcione independente da atuação isolada e individual de seus membros, de forma não-hierárquica.

É possível uma empresa ser uma rede aberta e distribuída desse jeito, sem acionistas majoritários, chefes ou cargos definidos?

Sim, é. A Dervish é um exemplo disso que começou aqui no Brasil e já está se espalhando para outros países. Com pessoas trabalhando de onde se sentem confortáveis, com horários e projetos que lhes agradem, a produtividade é elevada ao máximo, bem como a motivação.

E um portfólio de clientes com AmBev, Pepsico e Mondeléz, entre muitas outras, parece indicar que alguma coisa nisso está bem certa.

Todo mundo que passou pelo Instituto Tomie Ohtake nesse final de semana não saiu igual. Seja pela vontade de tirar aquele projeto da gaveta, seja para deixar o trabalho chato para trás.

Minha barba. Minha vida.