#Festivaldecampanhas por Henrique Castilho

 

 

Fim de semana passado (15 a 18) rolou a etapa nacional do festival de campanhas, lá em Porto Alegre. Bah, tchê! As três primeiras duplas de cada unidade da ESPM se reuniram para receber o último briefing do festival e, enfim, definir os vencedores. Eu estava lá concorrendo. E vou contar um pouco sobre o festival, um pouco dos bastidores, um pouco sobre Porto Alegre e um pouco das festas (a parte que pode contar).

Quarta-feira nos encontramos na ESPM para pegar táxi até o aeroporto. Éramos seis criativos (Augusto Antunes e Raphael Valenti, Renan Quevedo e Caio Muratore, Bruno Gonzalez e eu) e um professor/orientador, Tiago (sem h) Carvalho. De cara, todo mundo já se deu muito bem – criativo é um bicho sociável, principalmente entre si. O nervosismo também nos unia. Nervosismo de estar na final, da pressão de manter a tradição de levar o ouro pra São Paulo, de “jogar fora de casa” e, especificamente para mim, nervosismo de viajar de avião. Parece papo furado, mas não tenho medo que o avião caia, tenho medo de passar mal: Aeronausifobia, medo de vomitar em aviões. Se está no wikipedia é porque existe… Né?

 

Em menos de duas horas estávamos em Porto Alegre. Mais vinte minutos de carona em um táxi cor abóbora e chegamos no hotel, em frente ao Helena Beauty (alguém aí é fã de Foster?). São mais ou menos oito da noite.

 

 

 

O hotel ficava na cidade baixa, que lembrava muito uma Vila Madalena de São Paulo. Escolhemos um barzinho bacana para jantar. O chopp era razoavelmente barato e as porções valiam o custo benefício – tinham o mesmo preço das de SP, mas eram substancialmente maiores. O lugar estava cheio de gremistas, que diminuiam seus tons de voz a cada gol da Portuguesa que aparecia em alguma das TVs espalhadas pelos dois andares do bar. A gente comemorava baixinho, acho que dava pra ouvir.

 

Fomos para o hotel. Eram poucos os que conseguiam dormir. Travei uma conversa com o Caio que deve ter acabado pelas três da manhã. A gente sabia que o festival começava ao acordarmos, por isso tentávamos adiar nosso sono, como se assim adiássemos o festival também. Tática estúpida que me fez perder a hora. Acordamos e fomos para a Paim, agência madrinha da final do festival e segunda maior agência de Porto Alegre – ganhou, esse ano, prêmio de melhor agência pelo voto popular. Uma mesa de café da manhã incrível que acabou substituindo a do hotel, já que acordei tarde demais. Além das mesas de ping pong e de pebolim.

 

 

Estava 9 a 2 para o time azul quando fomos chamados para o briefing:

 

 

O briefing: vender iTouch no dia das crianças para adolescentes. Fazer campanha para um produto que historicamente não precisou  de comunicação para um público que não gosta de ser chamado de criança. Vai ser difícil. Preciso dormir. Não dá tempo.

Deixaram-nos extremamente acomodados. Todas as duplas não-conterrâneas tinham sua própria sala (ou QG) para criar. Serviram almoço e lanche

no fim da tarde, além do pãozinho de queijo com guaraná à tarde. Descobrimos que o Hot Pocket é o Tototsinho de lá; e que brigadeiro e beijinho é negrinho e branquinho. Uma dupla sulista tomava chimarrão enquanto comia o totosinho ( de salsicha), o hamburguinho, o queijinho (show de bola, muito bom mesmo), o calabrinho e o franguinho.

Mas voltando à criação…

Não ter experiência no mercado pesa muito em um festival como esse. A final funciona como a Maratona de Criação, temos um pouco tempo a mais pra criar só, mas não deixa de ser dum-dia-proutro. A cabeça borbulha. As ideias vêm confusas. Pensar em conceito para desenvolver ideias ou pensar ideias para fechar um conceito? Dia das crianças… brinquedos… bola… chute… E SE FIZÉSSEMOS UMA AÇÃO CHUTANDO CRIANÇAS?! Não, claro que não, meudeus, o prazo, o prazo…

O Augusto e o Rapha, coitados! Iam começar a criar quando receberam e-mails das agências onde trabalham (DM9 e ALMAP, respectivamente). Enquanto as duplas passavam a tarde criando lá na própra ESPM, eles resolviam pepino pras agências. Quando a faculdade fechou, todo mundo voltou para o hotel. Eles não tinham começado a produzir nada. Nem o Renan e o Caio, que, no meio de uma discussão, descobriram que estavam pensando por um caminho errado (eram oito da noite). Bruninho e eu já tínhamos fechado a ideia, mas tínhamos um problema: há algum tempo ele não desligava seu notebook – o Photoshop tinha expirado, se fechasse não abria mais. Eu não sabia disso e desliguei o computador. Por sorte, o Tiago é professor de criação digital e leva seu computador pra todo lugar que vai. Ficamos usando o note dele enquanto o photoshop baixava no do Bruninho. Também tínhamos uma outra dificuldade: precisávamos produzir uma foto para uma das peças. E para isso era necessário um modelo, maquiagem, maquiadores e uma peruca, sendo que não conhecíamos as pessoas daquela cidade, apenas as outras duplas, que estavam ocupadas criando.

Tenho então que deixar o MUITO obrigado – em nome do bruninho e meu – ao Renan, à Gabi e à Carol, que toparam ajudar a gente como modelo e maquiadoras. Também aos organizadores sulistas que ajudaram a gente a encontrar uma loja de fantasias onde fosse possível comprar a peruca. Vocês não precisavam ter perdido o tempo e a boa vontade de vocês ajudando concorrentes. Obrigado mesmo. (Inclusive, dando uma de spoiler, a peça em que eles colaboraram nos rendeu uma menção honrosa.)

 

 

Viramos a noite e voltamos as oito da manhã para nossos “QGs”. Aquela sensação de água batendo na bunda afetava todo mundo, indiferente da regionalidade da bunda ou do quão alta fosse. Augusto e Raphael começavam a layoutar suas peças só agora, foram os últimos a entregar. Meio dia todas as campanhas estavam nas mãos dos organizadores.
Todo mundo precisava dormir, mas ninguém negou a ideia do Tiago de passar numa churrascaria e experimentar a famosa carne gaúcha (não sexualmente). Foi lá que encontrei o amor da minha vida, uma garota (25 anos, aproximadamente) quietinha na mesa em frente a mim que ouvia o suposto chefe de sua suposta empresa dando um discurso supostamente de despedida. Não tenho certeza de nada porque não falei com o amor da minha vida, só fiquei olhando mesmo. Voltamos para o hotel para dormir, seis da tarde precisávamos estar na ESPM para apresentar as campanhas. E assim o fizemos:

 

 

Depois de apresentar os trabalhos, descemos para um salão para comer mais negrinhos e branquinhos. Um professor discotecava músicas inaudíveis – o salão estava barulhento porque rolava uma exposição de arte no andar de baixo, também com trilha sonora (e muita gente esquisita da arte). Subimos para ouvir o feedback das peças, dado pela própria galera da Paim, júris do festival. Eles ainda fizeram um shortlist das campanhas antes de descermos para saber os vencedores. Augusto, Rapha, Renan e Caio estavam lá. Bruninho e eu não. Acontece…

De volta aos negrinhos, branquinhos, gente esquisita e música inaudível. Agora é a hora da verdade. El Grand Finale. The big end. Ninguém consegue conversar direito. Todo mundo está meio sem graça, dando risadas sem graça e fazendo piadas sem graça. Os corpos se movimentam no salão sem conter o nervosismo, como átomos se movimentando em uma molécula que é esquentada. Mas antes de anunciar a ordem do shortlist (quinto, quarto, terceiro…), uma menção honrosa a um anúncio que a agência gostou muito, e achou uma pena a dupla criadora não terem seguido por aquele conceito. “É a gente, Bruninho! HA-HÁ!”.

 

 

Agora os vencedores…

Em quinto lugar… aimeudeusvãofalarsãopaulo… Rio! YES!

Em quarto lugar… vãofalarmeunomeeuseiquevai… Caio e Renan! …sabia. Calma, ainda tem paulista em jogo!

Em terceiro lugar… prontojáperdemojáera… Rio ! AH-RÁRÁRÁ!!!

Em segundo lugar… euseiquesoueueumereço… Porto Alegre! É OURO DO BRASIL!!!

 

 

Justo, justo. Quem assistiu às apresentações – ou seja, todo mundo – aceitou a qualificação. Eu não estava entre os jurados mas, reparando nos vencedores, percebe-se que foram melhor avaliados aqueles que conseguiram manter uma identidade visual na campanha, não deixando enfraquecer o conceito principal. Augusto e Rapha fizeram isso, e com uma criatividade que faz jús às agências em que eles trabalham. Veja as peças aqui.

O avião sai amanhã meio dia. Ninguém dormiu direito. Mas não dá pra desperdiçar uma festa em Porto Alegre, ainda mais depois da premiação. (Tenho que abrir um parênteses para esclarecer uma coisa. Não sou desses que costuma criar espírito de corpo com o grupo que pertence – colégio, clube, time, a própria ESPM… Nós paulistas poderíamos muito bem criar rivalidade uns com os outros: conhecia as outras duplas, sabia que eram fortes concorrentes. Mas nos demos todos tão bem que acabamos ficando feliz pela vitória dos dois, assim como acredito que eles talvez tenham ficado chateado quando não viram Bruninho e eu no shortlist. Fecho parênteses). Então fomos para o hotel, felizes com a “nossa” vitória. Meia hora pra tomar um banho e vamos pro Beco (sim, a mesma franquia de São Paulo. Pra quem não sabe, o primeiro Beco do Brasil é o de POA). Estávamos sendo guiados por uns amigos que fiz na final do ano passado, aqui em São Paulo, e que encontrei lá na ESPM sul. (Quantos parênteses nesse parágrafo).

A trilha sonora do Beco de lá é parível com a de acolá na Augusta. O que muda é qualidade do som, as caixas gaúchas estavam um pouco estridentes, o som era muito mais alto. Ah, e eram duas pistas: umas mais indiezinha, outra mais tecno mesmo – detalhe que separava visivelmente o lugar em dois tipos de público. Foi divertido? Bom, vou deixar uma foto constrangedora aqui que saiu no site deles, tirem suas próprias conclusões:

 

 

O que mais, o que mais… ? Bom, acordamos todos meio dormindo. Joga uma água no rosto pra disfarçar. Se veste correndo que já estamos atrasados. Mesmo assim, quem visse de fora veria seis corpos revitalizados, consequência de um sorriso no rosto que ainda não se tinha desfeito desde a premiação. Não deu pra dormir na viagem de volta, ficamos bombardeando Augusto e Rapha com perguntas sobre o mercado. Quando vocês entraram nas agências? Pra quantas pessoas tiveram que mostrar pasta? Cai job bacana na mesa? Ah, não tem mesa? Entendo, entendo…

A experiência me fez tão bem que, quando cheguei em casa, acho que ninguém entendeu como um perdedor poderia estar tão feliz.

 

 

 

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Henrique passa as manhãs dos dias de semana na ESPM, as tardes dos fim de semana tocando música e as noites de terça vendo a Portuguesa no Canindé.