Há dois meses, eu fui contratada para um estágio em uma produtora de conteúdo. Que tipo de conteúdo? Como eles mesmo gostam de colocar: conteúdo nerd. De quadrinhos a filmes, séries, jogos, música e, bem, qualquer nerdice que você possa imaginar, eu já escrevi sobre. Antes que você ache que esse texto é uma mera merchan pro meu emprego (pego essa deixa para fazer a publi, sigam a @huuro_ no instagram), entenda que é muito mais do que isso. Meu ponto é: para escrever, você precisa entender. Para entender, rola muita pesquisa – muita pesquisa. Então rolou muito aprendizado sobre nerdices nesses dois meses e uma das coisas que eu mais li e aprendi sobre foi a história do novo filme da Marvel: Eternos.

Eu não conhecia Eternos; aprendi tudo na marra quando me pediram para fazer um post resumindo a história. Para a minha sorte, gostei muito do que aprendi, o que me deixou muito ansiosa para ver o filme. Uma história de quadrinhos que eu já entendia indo pro cinema em uma adaptação feita por ninguém menos que a Chloe Zhao e estrelada por Kumail Nanjiani e Barry Keoghan? Eu estava quase contando os dias.

Eternos foi um divisor de águas. Muitos amaram de paixão, outros odiaram. Muitas reviews vieram em cima do filme por não seguir o que a Marvel costuma fazer: eles quebraram um “formato” que a Marvel segue a muito tempo, o que incomodou a muitas pessoas. Um exemplo é o texto O Que Aconteceu Com Eternos? que me fez escrever esse texto aqui. Nele, a autora veio, como fã de Marvel, reclamar e expor todos os erros e falhas de Eternos. Aqui, eu venho, como fã de Marvel E nerd de carteirinha assinada (e remunerada!), defender o filme e expor todos os erros e falhas do texto dela (e de várias das críticas não-merecidas).

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Antes de tudo, um breve resumo da história: os Eternos são 10 seres enviados pelos Celestiais, os deuses cósmicos da Marvel, para o planeta Terra com a missão de defender os humanos dos Deviantes, criaturas alienígenas bestiais que tentam tomar a terra deles. Milênios antes da história do filme, os Eternos derrotaram todos os Deviantes que existiam aqui e passaram a viver separadamente, ocultos entre os humanos. Agora, logo após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato, os seus inimigos voltaram ao planeta que eles juraram proteger, fazendo com que o grupo se reúna mais uma vez para derrotá-los.

Para começar, vamos abordar uma das maiores queixas feitas pelos fãs: ele é longo demais. É óbvio que ele é longo demais, o que vocês esperavam? É a primeira vez que fomos introduzidos a uma equipe completamente nova de 10 integrantes; o filme precisava apresentar cada um deles, seus conflitos internos, histórias pessoais e personalidades, e, depois de tudo isso , contextualizar, trazer os pontos chaves da história, as (várias) viradas inesperadas e a conclusão. O filme tem suas longas 2h e 37min, mas eu nem senti o tempo passar. Quando a história é bem contada e você não fica esperando o tempo passar, você só anseia pelo que vai vir, e isso eles entregam.

Além disso, não dá pra reclamar de assistir um filme com personagens como o Druig, Gilgamesh, Kingo e Makkari. Não, não são personagens como os Vingadores, mas desde quando era isso que o filme prometia? Diferentemente dos protagonistas de Eternos, os personagens de Vingadores tinham suas próprias HQs solos, que eventualmente levou à criação do grupo e conteúdo em cima disso. Eternos não teve o mesmo início; todos foram introduzidos ao mesmo tempo e na mesma revista, nada mais certo que fazer o filme da mesma forma. Construções de personagem totalmente diferentes, os Eternos já chegaram ao mundo unidos, os Vingadores, se uniram.

Falando neles, muita gente esperava que o filme que lançou fosse chegar a ser um Guerra Infinita ou um Ultimato novo. Vocês, por acaso, não entendem como funciona uma construção de história? Os Vingadores tiveram pelo menos uns 8 filmes acumulando detalhes e levando a história para esses filmes; os Eternos acabaram de ser introduzidos. Não é algo comparável; ir para o cinema exigindo uma coisa impossível de ser feita garante que você vai sair decepcionado. Não foi um “despejo de informações”, foi um filme introdutório para novos personagens no universo.

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Os Eternos nos quadrinhos

Outro ponto muito importante que a Chloe Zhao deixou bem claro desde o começo das gravações – mas que as pessoas decidiram ignorar – é que ela ia trazer um foco muito maior para o emocional dos personagens. Muitos dos conflitos que a gente assiste no filme se passam internamente, dentro de cada um dos protagonistas, além dos conflitos que a gente vê, explicitamente, na tela. Isso trouxe, sim, uma profundidade e seriedade maior para o filme, mas novamente, o que tem de errado nisso? A escolha de diretora com um filme tão profundo e lento quanto Nomadland nas costas, já mostrava que a Marvel queria levar seus filmes para outros territórios que eles estão desbravando com muita cautela.

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O propósito do filme não era trazer o tom leve e animado e a comédia bobinha que traz em filmes como Vingadores e, por exemplo, Thor: Ragnarok (não que sejam ruins, eles têm apenas outras intenções), e isso enfureceu muita gente. Mas trago o questionamento: estamos entrando na fase 4 da Marvel, muita coisa será diferente, então, ter um tom mais sério é ruim ou você só não está acostumado?

O tom de voz usado encaixa perfeitamente com os temas abordados: conflitos internos super profundos (como um exemplo a história do Phastos com seus poderes), decisões entre vida e morte e a criação da humanidade, deuses e planetas. O filme traz a história da criação pelas lentes da Marvel e é, muito provavelmente, o mais perto que ela vai chegar da religiosidade.

Marvel's Eternals: Who Are The Celestials, And Where Have We Seen Them  Before? | Geek Culture
Arishem, um dos celestiais

Falando na seriedade da narrativa, não dá para não trazer todos os pontos de extrema importância que Eternos introduziu para o MCU: vimos, pela primeira vez, um beijo gay e uma super-heroína surda. Tem que ter muito ódio no coração para não ficar muito empolgado. Além disso, teve, também, a primeira cena de sexo de qualquer filme da produtora. Mais uma vez, mostrando a humanidade dos personagens.

Ah, mas não pense que tudo isso privou o filme de comédia e cenas de ação tão boas quanto as anteriores! O Kingo e o Karun são dois dos personagens mais engraçados que eu já vi em qualquer filme de super-heróis e todas as cenas com a ilustre presença da Thena, a linda Angelina Jolie, fazem qualquer fã de luta olhar para a tela sem piscar uma única vez, de tanto foco.

Kingo's Valet Karun Gets His Own Eternals Character Poster
Kingo e Karun

Por mais, não falta romance na história: o clima entre o Druig e a Makkari é palpável até para quem passa no corredor da sala do cinema e qualquer cena com a presença dos dois traz um sorriso para o rosto de todo mundo.

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Makkari e Druig

Por outro lado, temos o casal Sersi e Ikaris, que foi muito criticado por ser “sem sal”. Não quero entrar em muitos detalhes, prometi a mim mesma fazer um texto sem spoilers, mas digo: não foi acidental. Vimos, com o casal mencionado antes, que eles não são incapazes de fazer uma boa história de romance, e, entendendo a história e os personagens ao longo do filme, eu também teria feito um casal meio… desconfortável. Você não é muito convencido a torcer por eles e não vejo isso como algo que não foi pensado anteriormente.

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Ikaris e Sersi

A realidade é que Eternos é um filme muito mais do que memorável por diversos motivos, seja representatividade, temas, profundidade, cenas de ação ou simplesmente por ter quebrado um molde mais duro que concreto. Foi inovador de diversas maneiras e estava longe de ser uma narrativa mal contada.

Como fã que chorou nos cinemas assistindo Vingadores: Ultimato (duas vezes) e que trabalha aprendendo e escrevendo sobre heróis, venho defender Eternos e aconselhar a todos que assistam ao filme. Nunca houve uma divisão de opiniões tão grande em relação aos filmes da Marvel; então, vai para o cinema, pega sua pipoquinha, assista ao filme e escolha seu lado nessa luta.

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