“Estamos todos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo”. É com essa frase da grande contista e poetisa brasileira Cora Coralina, que daremos início ao texto, e você já vai entender o por quê.

Tudo emergiu no momento em que a racionalidade humana inventou as máquinas. Aquilo que demorava meses, que exigia paciência e trabalho árduo, em um piscar de olhos ficou no passado. E essa nova tendência do momento, fazia com que os burgueses tivessem em mãos o sucesso do produto final em tempo recorde e intensamente reduzido. O olho humano brilhou.

Buscamos mais e mais inovações, tanto dentro dos meios de comunicações, quanto nas otimizações das ferramentas para o trabalho. Tudo ficou mais simples e com um sucesso mais garantido. As novas redes globais encurtaram nossas distâncias e as informações estão se tornando quase que imediatas. Temos tudo em nossa mão em segundos. E isso acabou mexendo com nossa cabeça.

Essa situação representa uma faca de dois gumes. De um lado a inovação e facilidade que o ambiente nos favorece. Do outro, o modo como absorvemos isso para nossa vida, tornando essa busca pelo sucesso rápido quase como um hábito para o que buscamos. E isso pode acabar prejudicando na vida de vários profissionais. Principalmente, para os escritores.

Escrever é uma arte onde o tempo é rei. A sensações de montanha russa são praticamente inevitáveis. Quando você começa a escrever, provavelmente vai ter, em algum momento, uma vontade de amassar o papel ou de apagar o arquivo e esquecer que você produziu aquilo. E vai ter um momento que você vai achar que é o momento do seu texto brilhar, independente da onde seja, em roteiros de novelas, criticas de jornais entre outras. É nesse momento que a calma e o respirar fundo são fundamentais. É nesse momento que você deve entender as palavras de Cora Coralina “o mestre é o tempo”

O normal é que seus primeiros anos escrevendo e seus primeiros textos sejam ensinamentos e práticas que trilham seu caminho até o sucesso. É muito raro que um deles brilhe e estoure em algum contexto profissional. Você deve praticar a escrita dando seu melhor a cada letra e trazendo inovação a cada parágrafo. A prática e os estudos estão completamente conectados nessa área.

Tente pensar que você deve escrever como se fosse um escultor. Antes de esculpir, o artista estuda os fundamentos, os princípios e a regra de tal cenário. E na escrita não é diferente. Você deve ter o entendimento geral de uma construção textual. Por exemplo, em roteiros televisivos ou teatrais é necessário que, antes de saber o desfecho, trabalhe muito na origem: que você saiba estruturar o personagem junto suas emoções, seus padrões de ações, seus vícios, etc. Nesse momento, o escritor vira o Deus da sua história, criando cada traço das pessoas envolvidas, do cenário, do clima, do contexto. Mesmo antes de ter um filho, você já educa e cria uma pessoa através dessa fundamentação. E como visto, isso demanda tempo e aperfeiçoamento. Os pais de primeira viagem sempre passam por poucos e boas…

Essa relação de sucesso e tempo é imprescindível. E não, nem os consagrados gênios da escrita conseguiram o sucesso no seu primeiro ou segundo texto. Tudo demandou tempo e muita escrita. Mario Puzo, o escritor e criador da saga de sucesso estrondoso, “Poderoso Chefão”, escreveu durante anos e o sucesso só chegou com 50 anos, quando terminou a genialidade em cima do enredo e do personagem de Vito Corleone. O escritor Charles Bukowski começou a publicar seus contos com 24 anos, mas nunca conseguiu o sucesso e independência financeira sendo escritor. Seu primeiro sucesso chegou aos 51 anos com o romance “Post Office”, referências aos anos de experiência trabalhando no correio para sobreviver. Bukowski transformou o tempo de experiência de 27 anos na sua redenção e ser eternizado na escrita como um dos maiores. Outro caso é com a própria Cora Coralina, que mesmo começando cedo a escrever, publicou seu primeiro livro “Poemas dos becos de Goiás e estórias mais” aos 76 anos. Todos esses escritores aproveitaram o mestre tempo para se desenvolver e o fizeram como uma arma para o triunfo.

Deixando claro que isso não quer dizer que você terá que esperar 50 ou 70 anos para fazer sucesso. O ponto central é que os novos escritores não devem se prender no amargor de não conseguir um triunfo rápido e nem escrever para buscá-lo precocemente. Aprenda com o tempo, se desenvolva e vire o melhor de si. Com isso, o sucesso é um dos caminhos que a vida pode preparar a você. E apesar de tudo, continue escrevendo, afinal como diria Bukowski: “Escrever para não enlouquecer”.

Clarisse Lispector