Nesse texto abordaremos um relato que aborda tópicos sensíveis, como abuso infantil, maternidade tóxica, distúrbios alimentares (anorexia e bulimia) e morte.

Jennette McCurdy é uma ex-atriz, diretora e escritora, sendo notoriamente conhecida e premiada como Sam Puckett, na série de televisão da Nickelodeon “iCarly”. Em 2022, depois de anos sem aparecer na mídia, ela anuncia a publicação de sua autobiografia “Estou Feliz que Minha Mãe Morreu”. Com um título polêmico e intrigante, foi inevitável não chamar a atenção do público.

Por ser uma estrela infantil, as crianças a viam como uma igual, não uma atriz. A ingenuidade da infância fez com que os telespectadores nem suspeitassem o que acontecia por trás das cortinas de sua atuação. E Jennette sabia esconder as dificuldades pessoais, afinal, era uma ótima atriz.

No livro, ela conta sua relação complexa com sua progenitora e, consequentemente, sua trajetória na indústria do entretenimento. Em diversos episódios citados pela ex-atriz é possível perceber o narcisismo de Debra, colocando seus interesses à frente das necessidades da filha frequentemente. Um exemplo muito claro disso é quando Jennette pensa em desistir da carreira de atuação e, ao invés de consolar a menina e tentar achar uma solução para esse impasse juntas, Debra chorava enquanto dizia que, caso desistisse, sua família perderia a chance de ter sucesso e fama novamente. 

Também lembremos do episódio que desencadeou uma gigantesca bola de neve:  aos 11 anos, o corpo de Jennette começou a se desenvolver e sua progenitora, como forma de tentar reverter o “problema”, incentivou a menina numa dieta para que seu corpo não tivesse energia e nutrientes para se desenvolver e continuasse a conseguir papéis infantis.

Para a alegria de muitos, Debra morre perto da metade do livro e então pensamos “Finalmente a Jennette vai começar sua recuperação da anorexia”. Ah, bobinhos!

O que estava ruim parece só piorar. Jennette se sente perdida sem a progenitora e começa a comer compulsivamente. Criada para ser sempre magra, ela se sentia culpada por ter comido tanto e, por muito tempo, tentou vomitar seus erros. Até que conseguiu. 

Diferente do que é retratado na grande mídia, a recuperação de um vício (anorexia e bulimia, no caso) não é algo constantemente linear e positivo. Jennette tira essa maquiagem e conta, além de seus pequenos avanços, sobre seus momentos de tentação, fraqueza e recaídas.

É interessante — não legal — ver como uma criança que faria qualquer coisa para fazer a progenitora feliz, se torna uma adulta que reconhece o abuso que sofreu e decide não visitar mais o túmulo de quem fez sua vida infeliz.

Já vai tarde, Debra

Minha mãe me ensinou que desejar o mal aos outros não vai fazer nada além de trazer o mal para mim, mas desde o primeiro diálogo da Debra, eu quis que ela comesse capim pela raiz. 

O livro é um soco no estômago a cada capítulo. Ver o relato de uma pessoa cuja progenitora a incentivou a seguir uma carreira que não queria só para realizar um sonho próprio e ainda incentivar a própria filha a desejar a anorexia não me causou nada além de repulsa e ódio por Debra McCurdy e pena de Jennette. 

É indignante como uma mulher que faz sua filha infeliz, passar fome e ainda abusa psicologicamente tem a coragem de se chamar de “mãe”. Quem me dera se ela fosse a única a cometer tal atrocidade. 

Uma coisa que não sei se você reparou, leitor, mas em momento algum eu me refiro a Debra McCurdy como “mãe” porque simplesmente penso que ela não foi uma mãe e me recuso a mentir e dizer que foi. 

No dicionário, o termo “mãe” é definido como uma mulher (ou fêmea) que tem filhos.

Na minha opinião, vou usar uma frase bem conhecida, mas adaptada: Mãe é quem cuida.

Uma mãe de verdade não faz seu filho passar fome.

Uma mãe de verdade não manipula os sentimentos do filho. 

Uma mãe de verdade não abusa do seu filho.

Uma mãe de verdade ama e cuida. Ponto.

Não é de hoje que o termo “mãe” vem sendo banalizado.

Agora, façamos uma pergunta incomum num blog de conteúdo sobre a cultura pop:

afinal, o que é ser mãe? 

Quem é e quem pode ser considerada e chamada de mãe?

Ser mãe é criar uma criança, amá-la de forma incodicional e irracional e prepará-la para a vida adulta ou você simplesmente ganha o título ao engravidar e parir?

“Ser mãe” é sobre a progenitora ou sobre a cria?

Toda criança merece uma mãe, mas nem todas as progenitoras merecem um filho.