Futebol: 11 contra 11, um campo, um juiz e uma bola. Essa poderia facilmente ser a definição do que é necessário para jogar futebol, mas, é ao mesmo tempo muito mais e muito menos que isso. Paixão. A partir da paixão vem o instinto, aquele formigamento que dá quando qualquer objeto, redondo ou não, cai no chão e a perna automaticamente já se move na mesma direção. A paixão é eterna, mas, ao longo do tempo todo o cenário do futebol sofreu mudanças, tanto estruturais quanto emocionais, seja através de regras, evolução tática, investimentos faraônicos em novos times ou até mesmo os jogadores e torcedores.

Desde os tempos áureos do futebol o jogador desempenhava um papel intrínseco fundamental, o de ídolo. Cada ídolo tem sua particularidade e sua empatia com o torcedor, seja a habilidade, o carisma, a raça, o talismã, ou o craque. Tudo que faz um ídolo está no campo, se decide ali, o resto pode agregar junto a imagem, mas se o papel não é desempenhado em campo não estamos falando de um ídolo, e sim de um xodó.

O futebol atual está carente de ídolos e trasbordando de xodós, um cenário futebolístico onde o jogador não é mais um companheiro dentre os 11 em campo, não possui mais essa empatia instrínseca com o torcedor. As chuteiras estão sendo abandonadas pelo salto alto, o campo está virando passarela, os “novos ídolos” não são mais jogadores e sim superstars.

Claro que todo o novo modelo de negócio no qual o futebol foi se transformando propicia essa evolução da antiga proximidade torcedor-jogador para uma distância gigantesca do artista para o fã, a sempre falada “profissionalização” do futebol afastou e retirou a alma da maioria dos profissionais envolvidos no esporte, principalmente do jogador. Apesar desse cenário, um dos maiores culpados é a própria indústria da comunicação, através da imprensa e das marcas do setor que desde que perceberam a oportunidade de divinizar os atletas investiram maciçamente no novos ícones pop.

A alemã ADIDAS promoveu essa semana o lançamento da nova coleção de chuteiras, o Speed of light pack, através da campanha “BLAH BLAH BLAH”, com participação de Paul Pogba (jogador mais caro da história do futebol: R$: 466 milhões) e outros jogadores patrocinados pela marca. Além de focar somente no individual, a campanha revela o lado comportamental extracampo dos jogadores com muitos elementos de fora do universo do futebol, mas especificamente de fora do campo de jogo.

O jovem Paul Pogba, craque ou superstar?

Outra evidência desse posicionamento da marca é a campanha veiculada em 2015, “Mete a Mala”, estrelando tês jogadores da marca e suas conquistas mais expressivas: casas, carros, dinheiro e mulheres.

Não é exclusivo da ADIDAS, a americana Nike também abordou o tema na última aparição de Cristiano Ronaldo em “The Switch”, mas, com uma mescla essencial de elementos campo e extracampo, principalmente a determinação para treinar e melhorar e o apoio dos companheiros de time.

Em comparação a outras campanhas da marca, a Nike, adicionou o lado popstar recentemente, principalmente devido a concretização do principal nome dos americanos como estrela máxima internacional, Cristiano Ronaldo, sim, o português é o melhor do mundo e tem o papel de craque no Real Madrid, comandando os merengues no último título da Champions League, mas a metamorfose de jogador a celebridade fica evidenciada quando o CR7 lança um aplicativo que proporciona aos fãs uma foto com o “ídolo”.

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CR7 SELFIE

Se trocarmos Cristiano Ronaldo por Justin Bieber, qual a verdadeira diferença?

Não são necessários holofotes, chuteiras de ouro, estádios monumentais ou dentes perfeitos e cabelos estilosos. O sentimento é maior que tudo isso.

Texto de Vittorio Laginestra

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