No dia 27 de agosto, comemoramos o dia do Psicólogo. A data foi escolhida por remeter ao dia no qual, em 1964, a profissão foi regulamentada no Brasil.

Formado há mais de duas décadas, vejo a data de forma ambivalente. Exerço a profissão e dela me orgulho muito. Na profissão, uno a dimensão da saúde com a do ensino e considero bastante realizador ter um trabalho que age na qualidade de vida das pessoas.

Mas a profissão sofre com uma situação ambígua. De um lado, ela relativamente desvalorizada. “Papo de psicólogo” é uma expressão pejorativa. Algo de fraco e inconsistente está associado culturalmente à profissão. Por outro lado, curiosamente, para todo o lado se enxerga pessoas com as profissões mais diversas querendo ser reconhecidas como ‘psicólogo’.

Há no mercado uma oferta impressionante de psicoterapeutas não formados em psicologia ou psiquiatria. A rigor, isto configura prática ilegal da profissão, no Brasil. Mas talvez, justamente por não se reconhecer a importância e formação específica, não se dê muita bola para isso. E há inúmeras arapucas oferecendo “formação em psicanálise” para profissionais sem formação específica prévia e as “autorizando” a atender.

Há também um rendoso mercado recente para a “economia comportamental” ou “Neuromarketing”, normalmente estudada e exercida por pessoas sem conhecimentos primários da área, mas que frequentemente se apresentam falando em nome da Psicologia. Ele em geral conta com o desconhecimento das pessoas com relação ao tema e despeja pesquisas recentes supostamente científicas, solenemente ignorando 2500 anos de conhecimento da filosofia e mais de 100 anos das principais escolas da psicologia.

Em geral, há muita coisa requentada e auto-ajuda disfarçada de ciência. Mas vende que é uma beleza, prometendo técnicas de controle sobre o comportamento do consumidor. Ou seja, desconhecem o fundamental sobre o humano.
Fico então com a ideia de que estes abusos sejam formas tortuosas de homenagens rendidas à profissão de psicólogo, que sigo professando com orgulho.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

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