Sinapse por Lucas Youssef, 19/05/2010
O que dá para ser feito em dez minutos? Pouca coisa. Muita coisa. Depende do quê. Depende de quem. Encontrar alguém ou algo que mude o final do dia, o final da história. Descomplicar. Deve ser o que todo mundo procura. Em dez minutos. Em uma hora. Pouco importa. Quem tem o hábito de escrever sabe o poder que reside em fazê-lo.
O papel e a caneta, ver a própria caligrafia; por algum motivo, o que envolve a escrita causa um fascínio, quase um orgulho ao escritor. Quem sabe realmente o que é alegria de poder eternizar um pequeno momento de consciência? E quem quer saber?
Não é falso dizer que a tecnologia tirou alguma graça de escrever. Se não for publicado, se não houver reconhecimento, não é a mesma coisa. Diário é público, e faz mais sentido se mais gente lê o que está acontecendo. Declaração de amor tem que ser pensada não só para o destinatário, mas para todos os que vão até seu perfil em uma rede social ler a mensagem. E para o trabalho, muito cuidado, afinal, chefes e possíveis chefes podem ler. Ler, ler, ler. Tudo bem. Passamos o dia por aí lendo o que nunca será nosso e não faz sentido. Os outros fazem a mesma coisa. Sem sentido. Sem pensar. Mas lendo o quê? Superficialidade acrescenta alguma coisa?
Antes de qualquer coisa, o texto é um fluxo. Mesmo que seja um fluxo alucinado por uma consciência alterada por emoções exacerbadas advindas de situações extremas. As idéias só precisam se complementar. Não precisa fazer sentido para os outros se for ficar guardado em uma gaveta. Dá para esquecer as velhas lições quadradas sobre coesão e coerência. Espontaneidade é ótima. Quem escreve, o faz antes de tudo para se contentar. Não é preciso primor para isso. Não é preciso chegar ao fim de um texto e sujeitá-lo a avaliações do resto do mundo. O texto pode servir apenas como um escape saudável. Entre outras coisas, a escrita é o que move ótimo filme A Sociedade dos Poetas Mortos, como na cena em que um aluno descobre o que pode fazer com a palavra, quando resolve não pensar só deixar fluir:
Nada contra algumas de nossas práticas. Mas podíamos ter outras. Não todos. Só os que quisessem. Afinal, quem escreve para si mesmo o que tem de impublicável? Poucos. Papel é quase terapia se houver uma construção. Papel virtual serve. As ferramentas já são conhecidas. Os blogs e microblogs não precisam ser comentados. O que dá pra escrever em dez minutos sem limite de caracteres? Um aviso. Um desabafo. Um texto brilhante, talvez. Tente escrever por dez minutos.
Twitter: @yousseflucas @NewronioESPM