Contos

Como se fosse uma pessoa

By Ian

August 20, 2012

#Contos por Ian Perlungieri

– Senta! O cachorro obedeceu. – Agora rola! E o animal, obedecendo a seu dono, começa a rolar na calçada de pedra. Seu dono, um velho senhor de cabelos grisalhos esboçou um sorriso de satisfação. – Muito bem! Muito bem! Toma seu biscoito! O cão lambe o próprio focinho e caminha em direção ao velho, que estava com o biscoito na mão. Timidamente, lambe a mão de seu dono que, após esse gesto de carinho, larga o biscoito que é devorado pelo animal. – Que bonitinho! – disse uma mulher que se aproximava. – Ele é muito inteligente. – falou o velho senhor. – Ele tem nome? – ela perguntou e começou a acariciar a cabeça do animal. – Pedro. – Pedro? – Sim. – ele respondeu – Por quê? Este nome te incomoda? – Não! Claro que não! É um nome diferente, apenas. – Você nunca conheceu ninguém chamado Pedro? – ele perguntou rígido. – Cachorro, não. – O Pedro é inteligente demais para ser considerado um cachorro! E Pedro latia, abanando o rabo positivamente para seu dono enquanto a mulher acreditava ter percebido um olhar de fúria no animal. A mulher, um pouco aflita com o que o senhor dizia e com a aparente violência no olhar do cão, perguntou: – Quem ensinou estes truques pra ele? – Eu. – Você trabalha com animais? – Animais? – Sim, o seu cachorro…

– Ele não é um animal! – interrompeu o velho, um pouco grosseiro. – Tudo bem. – falou a mulher um pouco ofendida esboçando um falso sorriso – Tenho que ir. Após ela sair o velho levanta-se do banco da praça e, apoiado em sua bengala, assobia para que seu cachorro o acompanhe. Logo depois de caminharem um pouco chegam a um edifício. O velho começa a falar com seu cachorro. – Esses idiotas não sabem do que você é capaz!

Após entrarem no edifício o animal fica em duas patas e, com o focinho, pressiona o botão para chamar o elevador. Depois de entrarem no elevador o cachorro repete o procedimento e pressiona o botão que indicava o segundo andar. Após chegar a seu andar e deixar que o cão abrisse a porta do apartamento, o velho encheu uma tigela de vidro com biscoitos. O cachorro latiu, satisfeito. O velho tira um pedaço de bife da geladeira e o esquenta no microondas. Quando a máquina termina seu serviço ele pega seu bife e senta-se em sua mesa. Corta um pequeno pedaço de seu bife e, antes de colocá-lo em sua boca, ouve um gemido de seu animal. Percebe que o cachorro está ao seu lado, lambendo o próprio focinho e encarando seu dono. – O que você quer? Já comeu seus biscoitos? O cão continua a encará-lo. – Você não vai comer esse bife! O animal gane baixo, quase como um sussurro. – O que é que você tem? Lambe o próprio focinho e continua a observar os olhos do dono. – Para com isso! – irrita-se o velho – Para… Sua fala desaparece. Põe a mão em seu peito e sente uma dor aguda e intensa. – Ajuda! – grita. Olha para o cachorro que continua a encará-lo – Eu te ensinei, lembra? Chama ajuda! O cão não chamou ajuda. Nem deitou ao lado do dono com qualquer outro cachorro. O animal vomitou aqueles biscoitos detestáveis no rosto de seu dono que agonizava, ficou em duas patas, comeu o bife e saiu do apartamento enquanto o velho morria. Cruel, como se fosse uma pessoa.

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