#Contos por Ian Perlungieri
– Senta!
O cachorro obedeceu.
– Agora rola!
E o animal, obedecendo a seu dono, começa a rolar na calçada de pedra.
Seu dono, um velho senhor de cabelos grisalhos esboçou um sorriso de satisfação.
– Muito bem! Muito bem! Toma seu biscoito!
O cão lambe o próprio focinho e caminha em direção ao velho, que estava com o biscoito na mão.
Timidamente, lambe a mão de seu dono que, após esse gesto de carinho, larga o biscoito que é devorado pelo animal.
– Que bonitinho! – disse uma mulher que se aproximava.
– Ele é muito inteligente. – falou o velho senhor.
– Ele tem nome? – ela perguntou e começou a acariciar a cabeça do animal.
– Pedro.
– Pedro?
– Sim. – ele respondeu – Por quê? Este nome te incomoda?
– Não! Claro que não! É um nome diferente, apenas.
– Você nunca conheceu ninguém chamado Pedro? – ele perguntou rígido.
– Cachorro, não.
– O Pedro é inteligente demais para ser considerado um cachorro!
E Pedro latia, abanando o rabo positivamente para seu dono enquanto a mulher acreditava ter percebido um olhar de fúria no animal.
A mulher, um pouco aflita com o que o senhor dizia e com a aparente violência no olhar do cão, perguntou:
– Quem ensinou estes truques pra ele?
– Eu.
– Você trabalha com animais?
– Animais?
– Sim, o seu cachorro…
– Ele não é um animal! – interrompeu o velho, um pouco grosseiro.
– Tudo bem. – falou a mulher um pouco ofendida esboçando um falso sorriso – Tenho que ir.
Após ela sair o velho levanta-se do banco da praça e, apoiado em sua bengala, assobia para que seu cachorro o acompanhe.
Logo depois de caminharem um pouco chegam a um edifício. O velho começa a falar com seu cachorro.
– Esses idiotas não sabem do que você é capaz!
Após entrarem no edifício o animal fica em duas patas e, com o focinho, pressiona o botão para chamar o elevador.
Depois de entrarem no elevador o cachorro repete o procedimento e pressiona o botão que indicava o segundo andar.
Após chegar a seu andar e deixar que o cão abrisse a porta do apartamento, o velho encheu uma tigela de vidro com biscoitos.
O cachorro latiu, satisfeito.
O velho tira um pedaço de bife da geladeira e o esquenta no microondas.
Quando a máquina termina seu serviço ele pega seu bife e senta-se em sua mesa.
Corta um pequeno pedaço de seu bife e, antes de colocá-lo em sua boca, ouve um gemido de seu animal. Percebe que o cachorro está ao seu lado, lambendo o próprio focinho e encarando seu dono.
– O que você quer? Já comeu seus biscoitos?
O cão continua a encará-lo.
– Você não vai comer esse bife!
O animal gane baixo, quase como um sussurro.
– O que é que você tem?
Lambe o próprio focinho e continua a observar os olhos do dono.
– Para com isso! – irrita-se o velho – Para…
Sua fala desaparece. Põe a mão em seu peito e sente uma dor aguda e intensa.
– Ajuda! – grita. Olha para o cachorro que continua a encará-lo – Eu te ensinei, lembra? Chama ajuda!
O cão não chamou ajuda. Nem deitou ao lado do dono com qualquer outro cachorro.
O animal vomitou aqueles biscoitos detestáveis no rosto de seu dono que agonizava, ficou em duas patas, comeu o bife e saiu do apartamento enquanto o velho morria.
Cruel, como se fosse uma pessoa.
A humanidade ainda tem chance! Basta seguir o @NewronioESPM!
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