Com tantas previsões de especialistas em todo o mundo, não há dúvidas de que os impactos sociais, políticos e econômicos causados pela pandemia do Covid-19 serão gigantescos. Como já estão sendo.

Tudo é inconclusivo no momento de publicação do texto, então obviamente não tenho a pretensão de projetar o cenário exato de como será o futuro. Melhor deixar isso para os profissionais. Aqui vamos tentar especular como esse impacto pode se dar especificamente na cultura.


Cena do filme Contágio (2011), sobre uma pandemia causada por um perigoso vírus

É completamente natural um tema marcante para a sociedade surgir como nova fonte de reflexão e discussão cultural. Assim aconteceu com o 11 de setembro, grandes guerras e outras epidemias (gripe espanhola, peste negra, h1n1). O youtuber de cinema Gustavo Cruz elabora um pouco sobre esses exemplos em um vídeo publicado recentemente no seu canal.

E com o Covid-19 não deve ser muito diferente. O vírus já redirecionou drasticamente a rotina de boa parte do mundo, e assim deve seguir moldando nossas vidas por mais alguns meses. Provavelmente deixando sequelas e marcas profundas no futuro da humanidade.


Cena do filme Her (2013), que aborda de um jeito poético e melancólico como a tecnologia pode afetar os relacionamentos

Um exemplo bem claro no nosso presente é a super valorização de conteúdo online. E o que não é exatamente uma surpresa, claro, afinal vimos os serviços de streaming decolarem nos últimos anos.

Mas é possível avaliar desde já que a política de distanciamento social intensificou esse processo de virtualização: instituições de ensino têm aderido ao ensino remoto (como é o caso da ESPM e o Arenas), e alguns eventos cancelados agora serão online (como é o caso da E3).

Penso que não é exagero também pensar que os artistas devem assumir um foco especial em temas como a ciência, preconceito (xenofobia, racismo, intolerância no geral) e importantes questões políticas como planejamento, obscurantismo e tomada de decisões, uma vez que esses estão sendo temas muito recorrentes durante a crise do corona vírus.


A série Chernobyl (2019) da HBO explora temas como o custo da mentira, gestão de crise e como interesses políticos/ideológicos afetam a sociedade

E por que não algumas produções poderiam focar em questões mais próprias desse momento de isolamento social? Artistas aflitos e dias solitários parecem ser condições bem favoráveis para a criação de obras mais profundas e existencialistas. Mary Shelley, HP Lovecraft e Francisco de Goya são bons exemplos de artistas que passaram por momentos de tragédia e isolamento, o que é retratado em suas respectivas obras.


El Gran Cabrón (1819-1823), por Francisco de Goya. O artista espanhol pintou sua famosa série “Pinturas Negras” ilustrando as facetas mais profundas e obscuras da humanidade em seus últimos anos de vida, sob um contexto pós-guerras napoleônicas no qual o ator contraiu uma doença séria e desconhecida

São tempos muito difíceis, toda a nossa organização social está sendo fortemente abalada e muitos incertezas surgem sobre o futuro. Governos e populações oscilam entre negligência e pânico, o que dificulta a atuação de autoridades e especialistas no processo de prevenção do vírus.

Mas ao mesmo tempo, nunca se houve uma medicina tão avançada e capacidade de comunicação e mobilização global tão ampla e efetiva na história. O que, por sinal, só tendem a melhorar com o progresso científico e tecnológico. Essa é a primeira pandemia em época de redes sociais e nunca foi tão fácil superar uma doença.

Vamos conseguir passar por (mais) esse episódio conturbado da história humana e vai ser muito bom aproveitar todas essas possíveis obras daqui a pouco. Até lá, cuidem-se e busquem informações seguras.

Amigão da vizinhança, torcedor do Bahia e mestre pokémon nas horas vagas