Arte & Design

Como Nikki Rosato esculpe memória e identidade ao recortar mapas velhos

By Lara Cardoso

November 16, 2020

A diversidade é o principal composto da humanidade; o mundo inteiro é repleto de pessoas ímpares, com sonhos, gostos e desgostos brilhantemente singulares. Mas se existe algo que nos conecta e nos aproxima, é o desejo de buscar saber quem somos e descobrir o que cada uma dessas singularidades significa. Só para no fim, perceber que a jornada que construímos no caminho é a verdadeira resposta.

A artista americana Nikki Rosato conseguiu materializar essa jornada ao esculpir bustos de malha e retratos delicados que denotam  as conexões entre identidade e todos os lugares pelos quais já passamos. 

Rosato esculpe as rodovias multicoloridas e estradas secundárias a partir de mapas comuns, deixando as distâncias e marcações espaciais intactas. Ela então molda o papel cortado em esculturas figurativas e obras de arte 2D que variam em densidade e cor dependendo da cidade ou região original. E, utilizando de marcações precisas da cartografia e recortes inteligentes, Nikki consegue destacar o complexo funcionamento interno da memória e do pertencimento.

“À medida que avançamos pela vida, os lugares que habitamos e as pessoas que encontramos nos transformam e nos moldam na pessoa que somos hoje. Estou interessada na ideia de que um lugar que visitei quando criança afetou o resultado de quem sou hoje”, conta a artista.

Ela ainda relata que começou a brincar com essas esculturas depois de encontrar uma caixa de mapas antigos em uma livraria de livros usados ​​em uma conferência de gravura na Virginia Commonwealth University. Ela comprou alguns e os levou para casa para experimentar, notando como havia um paralelo entre as linhas da estrada e as linhas que cobrem o corpo humano.

“Eu estava pensando no que significa ter um corpo físico e como é quando alguém é tratado como se fosse apenas um corpo – simplesmente considerando-o como um invólucro estrutural. Eu estava dividindo o corpo humano em linhas, pensando em impressões digitais, pegadas, rugas, vincos na pele e como isso se relaciona com questões de identidade. A superfície do corpo está literalmente coberta de linhas, e essas linhas físicas contêm histórias sobre nossas vidas. ” diz Rosato.

Para sua primeira série de mapas – “Se você fosse um lugar, estaria …” – ela tirou fotos de amigos, perguntou- lhes o que era importante para eles e qual lugar os representava melhor. Usando então um mapa daquele lugar para esculpir seu retrato. 

Rosato acrescenta: “Ao fazer retratos dessa forma, o mapa torna-se tátil, uma delicada estrutura semelhante a pele, servindo como um sistema visual que imita a estrutura venosa do corpo humano. Nosso corpo tem memória, nossa pele guarda muitas lembranças do tempo, além de ser um sistema que molda a identidade. O mapa, em minhas obras, é uma lembrança da jornada que nos trouxe até aqui”

Algumas das obras extraordinárias de Nikki Rosato estão disponíveis na Galeria Jonathan Ferrara.