Comportamento

Como criar uma máfia em 15 segundos- O mal do TikTok

By Lu Giffoni

September 16, 2021

O TikTok é um aplicativo de vídeos e música que surgiu da evolução do Musical.ly e tem sido uma febre desde 2019. Mostrando vídeos de, no máximo, um minuto, o aplicativo monta o seu feed baseado no algoritmo formado pelos vídeos que você curte e interage, colocando mais daquilo que você gosta. Esse algoritmo é conhecido por criar “lados” do TikTok, como o Booktok, que fala de livros, o Cristaltok, que fala de cristais, entre outros. O aplicativo realmente tem vídeos para tudo e para todos, podendo te ensinar a fazer pão caseiro, te mostrar como estacionar em baliza ou criar um próprio musical feito em cima de uma hashtag. Parece o melhor dos mundos, certo? Mas esse fenômeno acaba criando dois “pequenos” problemas.

Musical do Ratatouille

O primeiro deles está relacionado ao tempo dos vídeos. Já somos uma sociedade ansiosa e acelerada, sempre com pressa e minutos contados para aproveitar momentos de lazer, mas quando todo o conteúdo de um vídeo é compactado em até 60 segundos, nós nos acostumamos com essa rapidez. Os vídeos nos dão as informações de maneira rápida e resumida, podendo até serem divididos em partes para concluir a história, mas essa rapidez vai se tornando um costume, estimulando uma impaciência com conteúdos maiores. 

Um simples exemplo disso é a evolução dos conteúdos audiovisuais. Filmes costumam ter aproximadamente duas horas, mas com os episódios de 40 minutos das séries, muitos acabam perdendo a paciência de assistir um filme inteiro de uma vez. Com isso, entram os episódios de 20 minutos muito vistos em sitcoms, depois vídeos de 5 a 10 minutos no Youtube, e agora você pode até pular para o final de um vídeo de um minuto no TikTok, porque todo mundo se acostumou com os vídeos de 15 segundos. Isso não para: queremos conteúdo e queremos rápido; porque assistir um tutorial de uma hora quando se pode ver um TikTok de poucos segundos?

Com isso, chegamos ao segundo problema: a bolha. Já é normal do comportamento humano buscar aquilo com que nos identificamos, ou seja, procuramos aqueles que são iguais a nós, pensam como a gente. Isso na vida real é mais complicado, porque, apesar dos pequenos círculos de amizade costumarem pensar igual, é muito difícil conviver apenas com pessoas parecidas com você.

Lado antivacina do TikTok

Contudo, o aplicativo torna isso muito possível. Uma vez que o algoritmo repete aquilo que você curte e interage, sua “for you page” acaba se tornando uma pequena bolha, tendo apenas vídeos que te interessam, de pessoas falando aquilo que você quer ouvir. Isso nos aliena, fazendo com que não tenhamos acesso a nenhum conteúdo que nos contradiz, e, assim apenas afirmando nossas opiniões mais e mais, sem mostrar um contraponto. E não me leve a mal: entendo o lado bom de conectar pessoas passando pelos mesmos problemas, por exemplo, para que elas se sintam acolhidas, mas, e quando essa conexão é feita entre pessoas com ideias erradas, antiéticas e até perigosas, que antes achavam que estavam sozinhas e agora só assistem aos seus semelhantes?

Assim, temos os dois lados da moeda. Um aplicativo prático, que te fornece aquilo que você quer ouvir, sem ocupar muito do seu tempo (se você tiver autocontrole para não ficar duas horas assistindo TikToks) e um aplicativo que te manipula, te faz pensar que só existem pessoas como você no mundo e te deixa impaciente com qualquer coisa que dure mais do que 15 segundos. O difícil é descobrir qual dos dois você está usando.