Alan Moore é o maior escritor da história das histórias em quadrinhos. É inegável como os temas violentos, sombrios, adultos, existencialistas, sociais e políticos que suas obras contém mudaram o cenário da nona arte, esta que passou a ser levada muito mais a sério. Watchmen, V de Vingança, Do Inferno e A Piada Mortal confirmam a importância do “mago das histórias” para o universo mainstream das HQ’s. Além das supracitadas, uma das maiores contribuições para o cenário norteamericano fora a continuidade dada à Saga do Monstro do Pântano, a qual Morre assumiu e reformulou a partir da vigésima edição.

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Originalmente uma criatura vilã da edição 92 da revista pulp de terror “House of Secrets”, da DC Comics, o personagem ganhou uma série própria em 1972, que durou 13 edições, na qual passa a protagonizar como “herói”. Sem fugir muito dos clichês de origem, o biólogo botânico Alec Holland sofrera uma tentativa de assassinato, que foi responsável por unir componentes químicos ao seu organismo e depois de correr para o pântano de Louisiana, transformou-se na criatura coberta por musgo. Moore entra em meados dos anos 80, na segunda série mensal do personagem, batizada de “A Saga do Monstro do Pântano”. Após receber o aval de liberdade criativa, a origem da criatura foi reformulada: o monstro não era mais Alec Holland transformado, mas a personalidade e consciência transferidos para o “avatar do Verde”, entidade responsável por equilibrar e controlar o reino vegetal.

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Tal reformulação possibilitou a gigantesca expansão do universo do personagem, que foi concretizada ao longo das 40 edições escritas por Moore. Durante a fase, a história se pauta na mescla de romance com terror. A criatura busca apenas viver em tranquilidade com a mulher que ama, Abigail “Abby” Arcane, mas isso é impossibilitado por uma sequência de eventos grotescos e sobrenaturais. Diversos temas sociais e psicológicos foram discutidos e metaforizados ao longo da consagrada fase de Moore, mas o destaque vai para a representação do sexo entre os dois personagens, presente na edição 34, batizada de Rite of Spring.

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Os temas existenciais e filosóficos atingem o seu ápice após a declaração recíproca de amor entre os dois personagens: por ser “assexuado” e não possuir genitália (tema muito discutido durante a concepção do design), Alec dá à Abby um fruto e depois de comê-lo, a personagem se assusta com as alucinações e mudanças na percepção do mundo ao redor. A criatura explica que mais do que uma fruta, o alimento permite que Abby entre no plano do Verde, por meio da expansão de consciência e alteração da compreensão. De tal modo, a personagem humana seria capaz de entrar em contato com todas as coisas vivas, de forma muito mais primária, elementar e espiritual. A representação do sexo na obra é continuada pela maravilhosa sequência psicodélica, sob os desenhos e cores de Stephen Bissette, John Tolteben e Tatjana Wood, reforçada pelo texto poético de Moore. Não há nada de vulgar na representação, apenas formas simbólicas, simétricas e harmoniosas e pelo fato de não possuir nada que remeta à formas genitais, pode-se afirmar que o autor conseguiu transcender a heterossexualidade do ato sexual por meio do desejo e da intimidade dos dois personagens. O erotismo sai do plano físico e passa para o psicológico-espiritual.

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As influências da Saga e importância para os quadrinhos se alongam indefinidamente, esta que foi responsável pela criação do selo adulto Vertigo e por introduzir John Constantine, como exemplo.

Crítico mirim, desenhista amador, escritor júnior e futuro diretor (se tudo der certo).