Sinapse por Lucas Youssef, 12/03/2010
Um quebra-cabeças. Pouco tempo para juntar as peças. Ou melhor, as cenas. Puzzle movies sempre despertam a curiosidade dos fãs da sétima arte. Compreender histórias fragmentadas., cheias de reviravoltas, e chegar ao fim, tomando cuidado para não perder qualquer detalhe – cuidado que nunca dá certo. Quem não aceita esse desafio instigante sem pensar duas vezes?
Naturalmente os suspenses aparecem na cabeça de quem lê este post. O mais que festejado mestre do gênero, Alfred Hitchcock é figurinha garantida na de quem gosta dos quebra-cabeças. O famoso diretor tinha um talento incrível para conduzir os espectadores por narrativas intrincadas e surpreendê-los constantemente. Seus trabalhos estão num patamar superior e não podem ser comparados com qualquer outra coisa Mas deve-se dizer que apesar dessa naturalidade, outros gêneros caminham bem nesse território do surpreendente, e alguns filmes humilham muitos suspensezinhos banais.
Em drama há o brilhante Sobre Meninos e Lobos; O Clube da Luta vira a cabeça dos que gostam muito e dos que não gostam tanto assim dos filmes de ação; quem gosta de comédias românticas pode se apaixonar pelo original e divertido (um filme de comédia divertido deveria ser pleonasmo, mas com os filmes que estão por aí, torna-se relevante dizer) 500 Dias com Ela; quem gosta de terror e sangue deve adorar Jogos Mortais (só o primeiro, que fique muito claro); Amnésia, mistério-misteriosíssimo, desperta o investigador de cada um, e continua igualmente magnífico depois de uma década; Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, filme sensação entre todos os públicos que extrapola a barreira dos gêneros, conquista qualquer um.
A lista pára por aqui, e é óbvio que muitos filmes ficaram de fora. Antes que alguém resolva me alvejar (recomendar seus filmes pelos comentários também é uma opção), vou sugerir dois links para quem quiser procurar outros filmes que sigam essa linha: o primeiro, é a sessão Mystery do site IMDB, e o segundo é a sessão Puzzle Movies do site GreenCine.
Falando nos puzzle movies, Ilha do Medo, sucesso no exterior, estreou hoje no Brasil. Baseado no livro Paciente 67 (título brasileiro), do mesmo autor de Mystic River (que originou Sobre Meninos e Lobos). O diretor é Martin Scorsese, um dos especialistas em dispor filmes em pecinhas para que os espectadores se desdobrem procurando soluções. De um gênio como ele, só se podia esperar um grande filme. A história se passa em 1954 e conta a história de um detetive (Leonardo DiCaprio – numa atuação que não é exatamente sua melhor) que desembarca em uma misteriosa ilha onde está instalado um hospital psiquiátrico em que uma suposta assassina acaba de sumir. E a partir daí começa a se desenrolar o enredo misterioso e cheio de reviravoltas O filme é de dar nós nas cabeças dos mais perspicazes. Consegue surpreender e deixar de queixo caído até aquele espectador que conseguiu dar um palpite acertado sobre parte do final. E é especialmente legal porque o desfecho é bem flexível, aberto às teorias daqueles que não aceitarem se ater a uma visão linear dos acontecimentos. Inúmeras interpretações possíveis.
Para encerrar: por que esses filmes aparentemente confusos nos fascinam tanto? (Licença para a filosofia de botequim) Provavelmente pela obrigação de revisitar o filme constantemente a fim de compreender seu desenrolar e seu desfecho. Mas não só isso. Também pela necessidade de repensar e mudar o primeiro olhar sobre o que passou. Exatamente como fazemos – ou deveríamos fazer – cotidianamente. Talvez seja pela comprovação do clichezão de que as aparências podem enganar. Ou pelo simples fato de todo mundo adorar uma surpresa, até aquele seu amigo que jura com os pés juntos que detesta surpresas. As coisas inesperadas… provavelmente as coisas mais legais pelas quais passamos. Puzzle movies acabam sendo uma metáfora, estranha, mas válida, sobre o comportamento humano. Tudo muito incerto. Mistério.
Twitter: @yousseflucas @NewronioESPM