Há quem diga que a melhor maneira de se conhecer um país e sua cultura é através do cinema, algo que eu adoro concordar, talvez porque me poupe muito dinheiro com passagens e hotéis, ou talvez porque me dê mais uma desculpa para assistir filmes que muitas vezes nem tradução para português tem. E uma das melhores partes dessa aventura, ou viagem, como você preferir chamar, é descobrir obras que até então estão escondidas nas listas de algum usuário de Letterboxd ou nos festivais de cinema que não chegam a maior parte do público.

Começando com “Flowers of Shanghai” de 1998, onde em um salão de chá, 4 cortesãs, com personalidades e gostos diferentes, enfrentam as dinâmicas do relacionamento profissional e amoroso com seus clientes, onde a fragilidade destas relações tornam-se cada vez mais aparentes ao passo que ambas as partes mais se envolvem e se entregam a companhia do outro, tudo isso sobre um forte sistema de submissão e repressão quanto a suas verdadeiras vontades e sonhos.

O diretor Hou Hsiao-hsien, conseguiu falar até mesmo aquilo que não é falado em seu filme, por meio de longas tomadas e contemplação de sentimentos, que por muitas vezes são tão difíceis de se colocar em palavras que só é possível ser revelado se colocando na cena por meio dos planos do diretor. “Flowers of Shanghai” é um filme capaz de teletransportar qualquer um para a casa de chá como um mero observador escondido nas cenas, para perceber que as relações humanas são muito mais dinâmicas e complexas do que aparentam ser.

O último filme do diretor Edward Yang, “Yi Yi” mostra essa mesma visão da complexidade dos relacionamentos humanos, mas dessa vez em uma família. NJ, o pai da família se encontra tendo uma crise existencial, buscando algum significado maior na vida do que apenas o cotidiano, enquanto tenta resolver-se com seu passado. Já a mãe, Min-Min, se depara com as dificuldades de se marido de continuar acreditando na vida enquanto descobre que sua irmã está doente, e tenta ser o pilar da família, para seu marido e seu filho Yang-Yang, um menino que descobre o amor pela fotografia e quem seguimos pelo desenrolar da película.

Os nuances e sutilezas criadas e capturadas por Edward Yang fazem com que o filme tenha a alma de uma criança, que vai aprendendo as dificuldades da vida e das relações por meio de sua maior paixão. A trilha sonora do filme é perfeitamente encaixada com cada momento, que por vezes não só preenche a cena, mas também a transborda com sentimento.

E por fim, “Us and Them” um filme que mostra a inocência do amor jovem. Dirigido por Rene Liu, o filme nos mostra a história de amor de Lin e Fang, dois jovens que se conhecem saindo de Pequim, a caminho das comemorações do ano novo chinês em suas cidades. A relação dos dois é repleta de momentos de puro amor, mesmo nas dificuldades em que ambos se encontram ao se tornarem efetivamente adultos.

Lin e Fang, ainda que muito diferentes, encontram o conforto um no outro, e o filme mostra o quão difícil e complexo a relação amorosa de um casal tão unido pode ser. Envoltos em um mundo totalmente diferente daquele que imaginavam quando crianças, o filme é capaz de transmitir uma história memorável e linda, repleta de momentos capazes de arrancar o mais verdadeiro sorriso. Com uma fotografia impecável, que não contempla só sentimentos ou paisagens, mas sim a essência daquilo que se conhece como amor.