#Contos por Ian Perlungieri
O menino de rua estava quase adormecendo.
Usava uma caixa de papelão como cobertor e tinha o toldo de um chaveiro como telhado.
Eram 23h00min. Poucas pessoas na rua. Começa a chover.
A queda d’água faz o menino reabrir seus olhos. Começa a observar a chuva.
Pega uma tigela que sempre enchia com água da chuva e a empurra para fora da segurança do toldo.
Tira a caixa de papelão de cima de suas roupas rasgadas e fica de pé.
Pega a tigela e dela bebe.
O gosto que sentiu não foi de água, e sim, de refrigerante. Bebeu toda a tigela.
Chuva de refrigerante?
Saiu de baixo do toldo, virou a cabeça para cima e abriu a boca. Refrigerante! Estava chovendo refrigerante!
Virou-se, maravilhado, tentando achar alguém na rua para ele dizer que estava presenciando um milagre!
Não achou. Estava só naquele local.
Esboçou um largo sorriso. Virou sua cabeça para cima e abriu a boca novamente.
Algo acerta sua cabeça! Uma bola de tênis!
Começa a chover bolas de tênis! Bolas de tênis?
O garoto volta para a segurança do toldo. A bola de tênis havia machucado sua testa.
Observa grande quantidade de bolas de tênis caindo.
Pouco tempo depois, algo fura o toldo e acerta o pé descalço do garoto.
O menino dá um grito de dor e observa o próprio pé para ver o que o havia ferido.
Um prego.
Ao retirá-lo o menino grita novamente. Sangue começa a sair do local atingido.
Começa uma chuva de pregos. O toldo não era mais um lugar seguro.
Começa a correr e berrar, desesperadamente.
Enquanto procurava segurança, seus ombros e pernas são atingidos por outros pregos.
Fica sob um orelhão e começa a chorar. De dor e medo. Retira os pregos dos ombros e pernas e também percebe que um deles havia atingido sua sobrancelha.
Uma formiga o pica no local onde o prego havia caído pela primeira vez. Sacode seu pé com força e a formiga é lançada para longe do orelhão.
Começa a chover formigas e elas, após caírem no chão, começavam a perseguir o garoto.
Pisa em algumas. Precisa fugir. Outras sobem em seu pé.
Avista o metrô. Segurança.
Esmaga uma formiga que estava em sua perna com a palma de sua mão esquerda e corre em direção ao metrô.
Tira a regata rasgada que usava durante o caminho, pois nela havia muitas formigas, porém, enquanto gritava e tirava sua regata, tropeça na sarjeta.
As formigas caem em seu pescoço, sua boca, seus olhos, suas partes íntimas e o mordem. Formam um cobertor de formigas em cima daquele menino.
Continuava a gritar. Chorava. Seu corpo estava sendo dilacerado. Formigas estavam dentro dele. Com um olho ainda destampado por elas, as via comendo seu pé e via o próprio osso da mão. Seus músculos já haviam sido triturados. O sangue jorrava de todas as partes de seu corpo.
O chaveiro, ao abrir a loja no dia seguinte, estranhou não encontrar o menino de rua que dormia embaixo de seu toldo. Enquanto isso, em outro continente, um garoto estava muito feliz por saborear uma adocicada chuva de refrigerante.
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