O animador Du Pengpeng nos leva a uma viagem oriental, mostrando uma arte complexa e magnífica, mas que também tem a sua própria gaiola. Durante muito tempo, o anime viveu aprisionado na cultura geek, junto com a maioria das coisas que não são norte-americanas, brancas, masculinas. A sociedade é cruel, mas o papel de mudança está nas mãos de nós mesmos. A proposta do ilustrador em trazer o estilo visual junto à referências tradicionais da cultura chinesa é tão forte quanto a expressividade da história retratada. Com vocês, Cage.

Logo na primeira cena, uma moça é consumida (fisicamente e psicologicamente) por um homem, em uma espécie de sushi humano. Ela ganhou muito dinheiro se prostituindo. Ela entra em um sonho profundo lembrando de sua ingenuidade, encontrando com a sua infância e todos os seus sonhos de criança. Aquela liberdade e inocência que uma mulher adulta nunca sentirá novamente. A alucinação passa a se desfazer, quebrar, despedaçar, um caminho sem volta. A mulher é desconectada de seus sonhos, tendo de viver amarrada à sua própria gaiola.

Um ciclo que nunca se fecha, sempre estaremos dentro da gaiola de alguém. Seja por dinheiro, pelo patriarcado ou até pela cor de pele. A fênix que aparece em meio ao curta traz o renascimento de uma mulher, que dança ao som de sua liberdade cruelmente arrancada pela realidade.

Uma metáfora que representa a vida de seus bisavós, em um cenário pós guerra de muita miséria e desgraça. Numa época onde as mulheres não estudavam e eram obrigadas a se resumirem aos afazeres de casa, aprisionadas dentro de jaulas indestrutíveis. Com o passar dos anos, muita coisa mudou, mas muita coisa também se manteve.

Cage nos inspira a recordar nosso passado considerando o significado da existência para cada um de nós. Assim, Du Pengpeng nos faz refletir sobre um dos pontos mais duros da vida: “Se eu também tivesse vivido minha vida sem uma gaiola dourada, como isso teria me afetado? Eu teria me sentido satisfeito?”. Talvez muita coisa seria reconhecida, talvez haveria muito mais respeito, mas com certeza as coisas não são horizontais para o ser humano, nem nunca serão.

eu causei desgosto pro enem, mas to aqui.