O ano de 1992 foi marcado pela estreia de Quentin Tarantino nas telonas: o diretor norte-americano não precisou cursar audiovisual ou cinema, sua paixão pela linguagem e grande capacidade de observação foram os responsáveis pela consagração do seu estilo em filmes como Pulp Fiction ou Kill Bill. Tal estreia, acompanhada do aclamado Cães de Aluguel apresentou logo de cara as narrativas não-lineares, longos diálogos sobre algo não relacionado à trama e claro, o excesso de sangue. Mesmo adorado pelos críticos e fãs do Tarantino, os 25 anos seguintes ao seu lançamento deixaram o filme datado?

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O último vídeo lançado pela NerdWriter se propõe a discutir o envelhecimento do longa. No vídeo, a segunda cena do Mr. Orange baleado é analisada. Uma das melhores (semi) aberturas do cinema bagunça à relação “ação que tem consequência”. Nela, a “consequência possui ação”: ao passo que acompanhamos a lenta hemorragia do personagem no futuro enquanto descobrimos o que aconteceu no passado, a dor específica e brutal do presente nos é mostrada.

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O instinto narrativo do diretor torna-se responsável pelo não-envelhecimento do filme. Comparado pelo próprio à literatura (na qual o escritor possui completa liberdade na narração da história), o vídeo também aponta semelhanças do timing do filme com sequências de álbum, possuindo uma variação cíclica entre o intenso e o reflexivo, como mostra a imagem. E por mais que alguns diálogos contenham referências datadas à cultura pop as quais ninguém se lembra, o conceito de humanidade dos personagens encontra-se justamente na vontade do diretor utilizar tal cultura como linguagem comum entre as pessoas. Todos nós conversamos sobre música e programas de TV, tal recurso que é utilizado por longas atuais, como presente no universo cinematográfico da Marvel.

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Se colocado ao lado dos filmes conseguintes do Tarantino, Cães de Aluguel pode sim parecer amador, os recursos narrativos utilizados em Kill Bill e Os Oito Odiados mostram a evolução natural do diretor em fazer cinema. Contudo, um aspecto é colocado como à frente dos outros filmes, a “commode story” (ou história que contamos para enganar alguém. (Spoiler) Mr. Orange, o policial disfarçado, precisa enganar o grupo de ladrões. De tal modo, a sequência em que palavras são mostradas e transformadas em história e consequentemente na realidade (do filme) é brilhantemente trabalhada por meio do aprendizado, ensaio, performance e realização da trama, o consagrando como indispensável para fãs do diretor e qualquer um que aprecie a sétima arte.

 

Crítico mirim, desenhista amador, escritor júnior e futuro diretor (se tudo der certo).