Boris Kossoy é um dos nomes fundamentais da fotografia brasileira do século XX e também um dos maiores pesquisadores sobre o assunto no país.

Filho de imigrantes judeus, Boris Kossoy nasceu em São Paulo em 1941. Formado em Arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, dedicou seu mestrado e doutorado para Ciências pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Dedicou-se à fotografia desde jovem clicando suas primeiras imagens de fole nos Campos Elíseos onde morava com a família.

Boris-Kossoy

Aos 14 anos, no ano de 1955, iniciou sua carreira prolífica fotografando a Avenida São João com um registro à contraluz demonstrou seu carinho pela cidade e os tempos áureos do centro.

Screen shot 2014-11-03 at 2.55.47 PM Avenida São João, 1955

Deste mesmo ano é a fotografia do disco voador. Há alguns anos antes do registro, a revista “O Cruzeiro publicou uma matéria de Ed Keffel, na qual ele “flagrou”discos voadores. A matéria causou grande repercurssão e foi descoberta uma fraude inspirando Kossoy a tirar esta fotografia e seguir em um caminho ficcional.

Screen shot 2014-11-03 at 3.37.24 PM O Disco Voador, 1955

Também no começo de sua carreira registrou algumas imagens da periferia.

Screen shot 2014-11-03 at 3.12.23 PM Periferia, 1969

Ele foi estabelecido como fotógrafo apenas na década de 60 quando assinou o seu mais importante trabalho, a série “Viagem pelo Fantástico”, que foi publicado em formato de livro na década seguinte. Nela o artista buscava o limiar entre a realidade e ficção.

Kossoy conta que suas influências vinham de Edgar Allan Poe e outros clássicos dos romances de mistério, bem como o realismo fantástico de Júlio Cortazar e Bioy Casares por exemplo.

Em meados de 60, Kossoy transitava entre a fotografia e o desenho, este que lhe permitir representar os mistérios que via e imaginava no papel.

Na série, a fotografia documental e jornalística foi deixada de lado para abrir espaço para cenas com personagens e acontecimentos surreais.

É um projeto que se refere a algumas imagens que apresentam fatos que parecem estar em desconexão convivendo em uma mesma imagem. A ideia é criar uma atmosfera de sonho a partir de elementos, lugares e personagens reais. Nos obriga a perceber situações que não “vimos” assim como uma infinidade de outras que nunca veremos e que ocorrem continuamente e ininterruptamente em nosso cotidiano, configurando mundos paralelos. Kossoy convida o mundo a perceber essas realidades mágicas.

“Todo registro é obtido a partir de um complexo processo de criação/construção do fotógrafo; portanto, trata-se de uma elaboração que tem o ficcional como componente constituinte – por natureza. A fotografia sempre se presta – ou é planejada – a atender determinados usos. Daí não ser um registro objetivo da realidade e, sim, suporte de um processo de construção de realidades: ficções documentais.” afirma o fotógrafo.

Screen shot 2014-11-03 at 4.03.41 PM  Portrait do Sr. Américo. Mirante da Serra, Itapecerica da Serra, São Paulo, 1973Screen shot 2014-11-03 at 4.03.53 PM A clínica, São Paulo, 1973.Screen shot 2014-11-03 at 4.04.03 PM O Maestro, Caieiras, SP, 1970.Screen shot 2014-11-03 at 4.04.29 PM Surpresa na Estrada, São Paulo, 1970Screen shot 2014-11-03 at 4.04.36 PMViaduto,  São Paulo, 1970.

A série deu a Boris Kossoy o título de pioneiro do realismo fantástico da fotografia brasileira em virtude do caráter ensaístico que fugia ao padrão usual dos livros de fotografia que normalmente eram em torno de um tema determinado ou sob forma de coletânea do tipo “as melhores fotos de”. O ensaio foi recebido com estranheza pela comunidade da época, que estava engessada na fotografia documental e descritiva.

“Será somente através da sensibilidade, do constante esforço de compreensão dos documentos e do conhecimento multidisciplinar do momento histórico fragmentariadamente (ou seja, através da fotografia) retratado que poderemos ultrapassar o plano iconográfico: o outro lado da imagem além do registro fotográfico.” Boris Kossoy, em Realidades e Ficções na Trama Fotográfica

Posteriormente porém, ele passa a buscar o componente fantástico oculto na realidade em oposição à representação plástica de “Viagem pelo fantástico”.

Screen shot 2014-11-03 at 4.32.02 PM Sem Título, 1971, Nova york

“Para mim o fantástico continua naquele senhor sentado em um banco no parque que remete ao filme Blow up. O fato de ele não saber que tirei essa fotografia – provavelmente já morreu e nunca a viu – mas continuar vivendo na imagem remete à ideia de outras vidas, de outros mundos.” explica Kossoy.

Assim iniciou sua nova série de fotos “Cenas de Nova York” revestidas de toda a influência arquitetônica de sua formação.

Screen shot 2014-11-03 at 4.35.18 PM Taxi Driver, Nova York 1976
Screen shot 2014-11-03 at 4.35.05 PM Sem Título, Nova York, 1997

Procurou fotografar profusamente as manifestações políticas e a vida urbana de Nova York.

Screen shot 2014-11-03 at 4.52.53 PM Sem Título, Nova York, 1971Screen shot 2014-11-03 at 4.53.23 PM Manifestação contra a Guerra do Vietnã, Nova York, 1971

Em sua série “Cartões Antipostais” clicou diversas cenas do cenário brasileiro com o propósito de mostrar a realidade por dentro da idealização do país na época, por conta do “milagre brasileiro” que pretendia mascarar um real pesadelo: o regime militar.

Screen shot 2014-11-03 at 5.09.35 PM Sem Título, Santa Catarina, 1972Screen shot 2014-11-03 at 5.09.54 PM Sem Título, Salvador, Bahia, 1972

Screen shot 2014-11-03 at 5.10.08 PM Sem Título, Brasília, DF, 1972.

Screen shot 2014-11-03 at 5.08.51 PM Brasília em 1972, DF, 1972.

O fantástico deixa de ser tema da fotografia e passa a ser parte da sua estética. É um trabalho voltado a questionamentos existenciais retratando metaforicamente os anos de chumbo.

Seu trabalho mais atual pode ser encontrado em seu site.

Boris Kossoy fundou em 1968 a galeria de arte Ampliart.

Kossoy foi também fundador do Grupo Photo Gallery, reunindo fotógrafos de diversas áreas a fim de criar um Mercado da fotografia, ainda insípido no Brasil na década de 70: “Nosso projeto era o de criar um mercado para a aquisição da fotografia como objeto de arte, uma proposta que tinha um fim educativo de demonstrar a importância da fotografia como forma de expressão.”

Conhecido também por suas publicações teóricas, que contam mais de uma dezena de obras, entre eles “Realidades e Ficções na Trama Fotográfica” (Ateliê Editorial 2002), “Os Tempos da Fotografia, o Efêmero e o Perpétuo” (Ateliê Editorial 2007) e “Fotografia e História” (Ateliê Editorial, 2001). Trabalha atualmente como professor titular de Pós-Graduação na Universidade de São Paulo e membro do Conselho Consultivo da coleção Pirelli-Masp, além de continuar seu trabalho como Pesquisador e Historiador na área de Fotografia.

Música, música e música.