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Visitar a 56ª edição da Bienal de Veneza exige fôlego, percepção e atenção aos detalhes. Com o instigante título-tema “Todos os Futuros do Mundo”, a sensível curadoria do nigeriano Okwui Enwezor imprime um caráter dramático, mas sobretudo poético ao evento, retratando de modo analógico a passagem do século XX para o XXI, espelhando este espaço de tempo marcado por lutas e crises.

São 89 participações estrangeiras divididas em dois espaços principais; o Giardini, ou Pavilhão Central, cuja entrada já expõe a grande metáfora desta edição: no portal vemos penduras telas negras de grande impacto visual, criadas pelo artista colombiano Oscar Murillo, expostas como se fossem bandeiras (Alguém se lembra dos “Urubus” de Nuno Ramos na Bienal de São Paulo?).

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O outro espaço expositivo é a Arsenale, cuja primeira sala também exerce grande impacto ao visitante: a instalação de Adel Abdessemed, artista argeliano que cria uma espécie de paródia crítica às ninfeias de Monet, construídas com facões. A obra dialoga com diversos neons coloridos de Bruce Nauman apontando para temas como a morte e a violência.

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Além destes dois espaços, Veneza abriga outros 44 locais espalhados pela cidade (Igrejas, Museus, Palácios e Praças Públicas) a serem descobertos e visitados pelos espectadores mais afoitos.

O pavilhão do Japão, com a impactante instalação “The Key in the Hand” da artista Chiharu Shiota, foi um dos espaços que mais gostei. Fios vermelhos ocupam toda a geografia do pavilhão como uma grande teia; chaves marcadas pela passagem do tempo estão penduradas pelos fios. Dois grandes barcos dialogam poeticamente com este tecido que, na minha leitura pessoal, evoca a memória, a relação do passado com o presente, sempre apontando para um futuro incerto.

O pavilhão da Armênia, ganhadora do grande prêmio desta Bienal será assunto do próximo post.

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João Carlos Gonçalves (Joca)

Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

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