#entrevistas por Igor de Abreu.

 

Em um ambiente onde poucos querem o seu bem, muitos não te conhecem e a maioria quer dinheiro, o famoso “faça você mesmo” é a única saída para sobreviver no underground. Entrevistamos dois membros da banda Muda e focamos no necessário para a existência da banda: shows e divulgação. Além disso, conversamos sobre a indústria fonográfica, preconceitos e barreiras a serem vencidas. Eles ainda deixaram uma dica para quem quer entrar nesse meio.

A banda Muda que hoje tem influência do hardcore californiano e canadense surgiu como uma brincadeira na escola entre três amigos que tinham 12 ou 13 anos. Ablan, Febas e José, que fundaram a banda, hoje são vocalista e guitarrista, guitarrista e baterista, respectivamente. Na época de formação a banda se chamava “Old School”. Hoje a Muda conta com outro membro além dos três: Marcelo (Popoto), que é baixista. A mudança do nome, além de representar o amadurecimento, faz referencia a uma pessoa muda, a uma mudança e a uma muda de planta, que simboliza o inicio de algo.

Confira a entrevista cedida na íntegra para o Newronio!

 

Partindo do tema faça você mesmo, como são feitas as camisetas da banda?

"Não pensamos em lucrar, pensamos somente em não ter prejuízo". Popoto usando uma camiseta feita pela banda

"Não pensamos em lucrar, pensamos somente em não ter prejuízo". Popoto usando uma camiseta feita pela banda

Ablan- Da ultima vez nós compramos no Largo Treze um monte de camisetas brancas e fizemos por conta própria a tela de silk. Agora estamos fazendo novamente, em maior quantidade.  A estampa ainda será feita por nós e o “pano” será comprado no mesmo lugar.

Popoto- Inclusive, as estampas da Muda são feitas por vários amigos. Cada um fará seu desenho. Vão ser varias estampas diferentes.

 

Como vocês calculam o preço que será cobrado pela camiseta/CD’s?

 

Ablan – O preço é simbólico, porque a gente acaba gastando certa quantia. Não pensamos em lucrar, pensamos somente em não ter prejuízo. Queremos ter um número mínimo e vender para poder “bancar” as próprias camisetas. A partir do momento que não tivermos nenhum prejuízo pensamos até em doar algumas camisetas, porque o importante é a divulgação. Até com o CD a intenção é apenas de sair do prejuízo e divulgar a banda. Dificilmente vamos conseguir juntar alguma quantia com a venda. Tudo que poderá algum dia ser convertido em dinheiro será reinvestido na banda.

 

Quem cuida da parte de mídias da banda (Facebook, Soundcloud, Myspace, etc)?

Ablan – Todo mundo tem acesso à parte da internet.

Popoto – Isso é prejudicial, porque não existe uma rotina então cada um posta quando tem vontade.

 

Quais são os apoios que vocês têm (amigos, produtores, fotógrafos, etc.)?

Ablan – Eu acho que os amigos são o principal apoio, e o único. Temos vários amigos músicos, designers e todos apoiam do jeito que podem.

Popoto – A gente conta com eles na hora do show também.

Ablan – Eles não têm experiência profissional nenhuma, o pessoal que estiver com a gente no show acaba ajudando de todas as formas. Inclusive levando equipamento para o palco.

 

Como vocês agendam os shows?

Popoto – Estamos passando por uma transição. Por muito tempo a gente se sujeitou àquele esquema de venda de ingressos. Os produtores faziam isso para não sair no prejuízo, mas não visavam o bem estar das bandas. Muitas vezes a gente saía no prejuízo porque se a gente não vendesse a cota de ingressos tínhamos que tirar do bolso, caso contrario não tocávamos. Provavelmente vamos organizar shows por nossa conta, alugar uma casa e chamar bandas amigas que conhecemos durante esses anos.

 

"Eu acho que os amigos são o principal apoio, e o único". Banda Muda com amigos e integrantes da banda Rancore

"Eu acho que os amigos são o principal apoio, e o único". Banda Muda com amigos e integrantes da banda Rancore

 

Quando vocês fazem show fora de São Paulo, como funciona a logística de transporte?

Ablan- Já tocamos em Bauru e São Bernardo. Sempre que fazemos um show é por algum convite, por exemplo, a banda Rancore nos convidou para tocar em Bauru. O produtor contrata uma van, mas nós que acabamos arcando com algumas despesas junto com alguma outra banda. É uma correria, perrengue. Quem tem banda e não é famoso tem sempre que gastar uma grana e dar uma “raça” para fazer acontecer. Tem que ter muita vontade, tem que gostar muito.

 

Falando em fama, existe algum tipo de preconceito com bandas que tem selo ou gravadora dentro do meio underground? Como vocês lidam com isso (como a popularidade ou pressão da indústria fonográfica influenciam as bandas)?

Popoto –Acho que o preconceito não vem das bandas em si, mas do público. É ele que faz essa pressão. Cada banda tem seu valor. Apesar disso, eu acho que tem muita banda que acredita que ser famoso é o caminho, que não visa fazer um som legal.

Ablan- As bandas que querem caminhar pelo caminho da indústria cultural vão sempre acabar se destacando e tendo mais espaço. É claro que dentro do underground muitas pessoas acabam deixando de gostar da banda porque ela foi para o mainstream. Um exemplo disso é a banda Glória. Acho que não tem nada a ver, existem grandes bandas que tem potencial para ir para o mainstream sem perder qualidade, mas quem é do underground faz jus à cena.

 

"Música boa vem da sinceridade do artista, do modo como ele consegue expressar o que sente". Da esquerda para a direita: Popoto, José, Ablan e Febas

"Música boa vem da sinceridade do artista, do modo como ele consegue expressar o que sente". Da esquerda para a direita: Popoto, José, Ablan e Febas

 

Você mencionou um aspecto importante: a qualidade das músicas. O que é musica de qualidade para vocês? O que é preciso para cria-las (talento, criatividade, esforço, dedicação)?

Popoto – Existem musicas boas e músicas bem produzidas. Música boa vem da sinceridade do artista, do modo como ele consegue expressar o que sente. A música bem produzida é, por exemplo, a música pop. É difícil você não gostar dela porque fica na sua cabeça; ela é feita para isso. Provavelmente se você não gosta dela é porque você está batendo de cara, tendo um confronto cultural, porque a música é bem produzida e bem feita.

Ablan – A partir do momento que a música é mais complexa, ela te toca em outros “lados”. Não é audível para todo mundo. O cara pode ter talento para fazer a música ou ter um bom produtor.

 

Para finalizar, qual conselho você daria para alguém que está começando uma banda agora (com relação ao esforço que é ter uma banda underground)? O que se imagina é diferente da realidade?

Ablan – A cena underground têm muitos pontos negativos. Se você quer estar nessa cena precisa ralar, precisa curtir. Se você não curte não adianta querer fazer.

Popoto – O conselho principal é esforço. Se esforçar e ser sincero, acima de tudo. No underground nada é mágico e nada é uma grande produção. É tudo você mesmo. Quando eu era menor, ia ao show do Envydust, Rancore. Eu via os caras com crachá, uma equipe, mas na verdade era sempre a mesma equipe, que eram os amigos. Eles também faziam parte da correria.

Ablan – Acho que só pelo fato da banda estar no Brasil, na cena underground e tocar rock é o destino dela se ferrar.

 

"Olho de pena" é o nome do novo EP que tem 4 músicas e será lançado no show do dia 20

"Olho de pena" é o nome do novo EP que tem 4 músicas e será lançado no show do dia 20

"Muitas vezes a gente saía no prejuízo (...) caso contrario não tocávamos". Panfleto usado na divulgação da banda. Esse show vai mesmo acontecer, não perca!

"Muitas vezes a gente saía no prejuízo (...) caso contrario não tocávamos". Panfleto usado na divulgação da banda. Esse show vai mesmo acontecer, não perca!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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