Recentemente tenho escutado muitas críticas e ataques a respeito da polêmica em torno de Dave Chappelle, um comediante norte americano que anda na linha do preconceito há tempos.

Então, como uma boa fofoqueira e uma crítica amadora, resolvi assistir o especial da Netflix “The Closer”, o último e mais polêmico de seus especiais, para poder comentar com propriedade. O programa foi um dos mais assistidos do streaming, atingindo 10 milhões de visualizações em menos de um mês.

O conceito central desse texto é algo muito ambíguo, mas vamos lá. Para começar, não sou contra a liberdade de expressão, obviamente, mas até onde essa liberdade de expressão pode ir, sem invadir a liberdade de existência do outro?

O especial começa com uma piada de ouro, ou melhor, de m*rda, em que ele conta que tomou a vacina da johnson & johnson, a “terceira melhor opção” como ele diz. Ao brincar com isso, ele diz ironicamente: “vou tomar a vacina que os mendigos estão tomando”. Começamos logo com aporofobia, o preconceito com pessoas pobres, para dar uma azedada, mas vamos continuar.

Seu programa continua com outras piadas, trazendo uma que brinca com pedofilia, dizendo que ele foi molestado por um padre, mas que ta tudo bem porque ele adorou, e depois compara o seu sistema imune brigando com o covid, com vídeos de negros brigando com asiáticos na época da pandemia.

Entretanto, ele traz ótimos pontos sobre racismo, isso não posso negar. Sua luta contra o racismo vem desde o início de sua carreira, afirmando inclusive no especial que ele não tem problema com trans, mas tem problema com brancos. Mas ao comparar a relação de uma mulher cis com uma mulher trans, com a relação de um negro com black face, porque mulheres trans estão “querendo copiar” mulheres cis, ele dificulta muito sua situação.

Porém, e entendam que eu coloco esse ponto com extrema cautela, de uma coisa ele não pode ser acusado: discriminar uma minoria específica. Dave Chappelle consegue ofender absolutamente todas as minorias e “maiorias” em uma hora de show, sem exceção. Ele brinca com negros, brancos, mulheres, homens, trans, cis, gays, héteros, aliados e homofóbicos. E não digo isso necessariamente como uma crítica.

Existe uma grande polêmica em volta do que é humor e o que é preconceito e já que se vai criticar e ofender um grupo, ofender todos os lados me parece um pouco mais justo, se é que faz sentido.

Em seu discurso para a Duke Ellington School of the Arts, o comediante defende que seu trabalho é como atuação, que ele cria um personagem, e conta histórias e piadas em prol da liberdade de expressão, de poder se expressar artisticamente da maneira que ele quiser. Ele também diz que quanto mais disserem para ele não falar de algo, mais vontade ele terá de fazê-lo. Nesse discurso ele nega a oferta de ter seu nome como o nome do teatro da escola, e muda-o para “Theatre for Artistic Freedom and Expression”, que traduzido é “Teatro de Liberdade e Expressão Artística”. 

Sobre isso, acredito que piadas de mal gosto que ofendam minorias e pessoas em desvantagem social não são engraçadas. Rir às custas do sofrimento alheio não é certo, mas enquanto ele não proferir discursos de ódio, incitando violência e preconceito, ele tem direito de falar. Não aconselho nem recomendo que assistam os especiais, tanto para não se frustrarem quanto para não darem mais visualizações. Não é engraçado e é ofensivo. Mas os babacas têm direito de falar, porque quando não puderem mais, quem decidirá quem é o babaca que deverá se calar?