Minas Gerais, romance, poemas e referências históricas. Te apresento sua próxima viagem, a obra de Ganymédes José.
Um livro que pode aparentar ser uma mera história infantil, mas que, na realidade, traz um enredo de tanta sensibilidade que, logo ao terminar, você vai querer voltar à primeira página para viver tudo aquilo de novo.
O ponto que mais me tocou foi o romance principal se entrelaçar com o triste passado de Maria Joaquina e do poeta António Gonzaga, contendo passagens do poema escrito pelo próprio Gonzaga para sua amada, “Marília de Dirceu”, que te teletransporta para a Ouro Preto do século XVIII. Dentre tantas analogias que o livro proporciona, uma me chamou mais a atenção: o nome verdadeiro de Lília, a protagonista, é na verdade Marília, e quando ela conhece Dirceu, seu par romântico, ele recita para ela o poema em questão e diz: “As palavras são dele, Marília, mas o coração que recitou foi o meu!”.
Apesar de terem apenas 16 anos, o amor vivido pelo casal é tão intenso que parecem adultos. Inclusive, essa foi mais uma questão que despertou meu olhar, porque o autor não invalidou o que os dois estavam sentindo por serem novos demais, já que nessa idade tudo é novidade e você quer experimentar o que o mundo pode te dar. É exatamente por isso que Lília passa!!
Mas como nem tudo são flores, sua mãe a proíbe de muita coisa, a deixando sem liberdade de escolha. Porém, é no meio das arquiteturas barrocas e dos bonecos de fantoches – juro que isso faz sentido – que Marília consegue voar para fora da gaiola e vivenciar um romance do jeito que sempre sonhou.
Os detalhes são tão bem escritos que você nem precisa se preocupar com as passagens, pois parece que você está exatamente ali, naquela cidade, experimentando a vida junto de Lília. Devo acrescentar que este ponto pode ser um pouco cansativo pois Ganymédes não poupa detalhes, mas é isso que torna o livro tão imersivo e, apesar da descrição minuciosa, a leitura é tranquila e recheada de trechos poéticos sobre o amor.
E, além de falar sobre amor e história, também é abordado o preconceito racial. Dirceu é um menino descendente de escravos que precisa lidar com as consequências diárias de se viver em meio a uma sociedade racista. O autor consegue trabalhar uma questão tão pesada de forma fácil e acessível.
Se você está se perguntando se existe alguma adaptação cinematográfica do livro, infelizmente devo dizer que não, e olha que procurei em todos os lugares possíveis e imagináveis. Os únicos vídeos existentes são de um trabalho do sétimo ano escolar e um book trailer, o qual consiste em um “trailer do livro” apenas com cenas de filmes ou séries. Ou seja, ainda não fizeram um filme e provavelmente nunca irão fazer; mas uma parte de mim ainda tem esperança, porque é uma história fácil de ser produzida e registrada e seria incrível assistir um de meus livros favoritos.
A forma como encontrei esse livro – que eu sei que não é tão famoso e, além disso, é um daqueles livros que quem leu, leu porque foi proposto pela escola – foi mais aleatória que a própria obra. No começo de 2021, estava eu no Pinterest de bobeira, quando encontrei a foto de uma dedicatória que, por algum motivo, mexeu comigo. Pesquisando pela frase, descobri o livro e, sem sequer ter lido a sinopse, comprei. Quando chegou, vou ter que confessar que julguei pela capa e pensei que tinha gastado o meu dinheiro à toa. O arrependimento quase começou a bater, até eu ler a primeira página.
Espero que depois desse texto você se jogue de cabeça nos dramas de Lília e nas paisagens mineiras. Acredite em mim, no final você vai querer comprar passagens para ir a Ouro Preto e viver um amor igual ao desses dois. Boa leitura!
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