Causou furor nas mídias sociais durante esta semana a resposta do candidato à presidente Levy Fidelix sobre a questão da união entre homossexuais, num debate.
Parte das discussões considera que ele falou aquelas baboseiras para aparecer- como o faz neste texto- e que seria melhor ignorá-lo. Apesar da reação, muitos pensam que ele ganhará muitos votos com a batatada que, afinal, representa a posição de uma parcela conservadora e significativa em nossa sociedade.
Além dos equívocos simplórios deste tipo de discurso, como confundir homossexualidade com pedofilia, é notável como ele mostra ignorar o mais básico sobre a sexualidade humana ou sobre o respeito devido à nossa diversidade.
Mas, como psicanalista, o que mais chamou minha atenção foi a fantasia revelada pelo próprio, talvez também típica: a de que se passarmos a ser liberais na relação com a diversidade sexual, aumentaria muito o número de homossexuais. Fantasia reveladora de uma idealização e grande temor com relação a potência daquilo que se tenta conter. Daí aquele clichê (bem razoável) que diz que o homofóbico esconde desejos inconscientes homossexuais. Ele só pensa “naquilo” mas, por não admitir que a perturbação que sente a respeito seja um desejo, defende-se invertendo o sinal para uma ideia fixa de aversão.
Faz parte do discurso obsessivo guardar uma fantasia com o seguinte formato: eu não posso começar a… senão já não conseguirei parar e vou me destruir com isto. Pode se tratar de beber, roubar, dizer o que pensa, relaxar, usar drogas, fazer sexo: mas há sempre o fantasma da necessidade de se manter o controle absoluto, sob pena de ser levado irresistivelmente pelo desejo.
Nossa prática clínica sugere que o que mantém a fantasia da onipotência do desejo e o medo dele é justamente seu caráter contido e reprimido. Uma vez que estes desejos ganham expressão, eles costumam deixar de amedrontar e se mostram menos potentes e destruidores do que se temia. Ou seja, é a própria repressão que cria seus demônios.
É comum que um obsessivo, ao longo de sua análise e ao se permitir a expressão de alguns de seus desejos, diga coisas como: “Mas era só isso? Eu me contive tanto por tanto tempo à toa, não era tão terrível assim?” Isto gera um misto de alívio e decepção.
Certamente, a naturalização no trato das diversidades do desejo traria para nossa vida social muito mais tranquilidade para lidarmos com nossos próprios desejos. Provavelmente, não haveria mais homossexuais, mas sim menos violência.
Às vésperas da eleição, isto vale também para o medo de que tal ou qual candidato seja eleito ou de que o meu não o seja.
Pedro de Santi
Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.
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