#sinapse por Henrique Castilho

 

Há algum tempo que não tenho uma conversa de bar que não entre na questão “publicidade é arte?”. E em nenhum momento o grupo entra em um consenso – em parte pela complexidade da questão, em parte pelo nível de álcool no sangue da galera. Resolvi escrever esse texto, já que meus argumentos estavam confusos até pra mim. Ah, estou do lado da minoria: publicidade é arte.

E vice-versa: a arte também é assinada por uma marca. Os artistas têm uma imagem de marca, diferenciais, conceitos, missões, visões e valores. Quando um artista já é conceituado, é porque agregou valor à sua marca. Há artistas concorrentes e fusões de artistas. O dinheiro move o mundo, baby. E não estou só me referindo à indústria cultural, o mesmo funciona para grandes artistas ou artistas undergrounds. Eles são como a marca conceitual de moda ou o sebinho cool do centro velho.

Por outro lado, a publicidade também é a expressão de uma sociedade em certa época. Pode-se muito bem fazer um estudo do humor britânico só vendo seus comerciais de TV. Dá pra entender muito sobre os japoneses vendo suas propagandas malucas. (Ou melhor: não dá pra entender nada dos japoneses, nem das suas propagandas malucas). E isso fica mais evidente a medida em que as propagandas param de ser funcionais e viram entretenimento e conteúdo. Não é mais tão importante para as concessionárias explicar sobre seu carro; ao invés disso, elas colocam pôneis sacaneando a concorrência.

E esse conteúdo agora criado está nas mãos de diretores de arte – gente que estudou história da arte, fez aulas de desenho e técnicas de pintura, visitou mil exposições e conhece nome de diretores de cinema (eu não lembro nem o nome do filme) – e redatores que passavam com 10 nas aulas de português, que realmente gostam de ficar lendo bons livros nas horas vagas, conhecem de literatura e, na verdade, almejam ser escritores (sem falar nos escritores contratados pela propaganda que não sabem nada do assunto). É só dar uma olhada na revista Archive para ver que diretores de arte realmente entendem de ilustração. Sem contar nos redatores que conseguem transformar grandes ideias em um conceito, como nos haicais.

Arte e propaganda não têm propósitos tão diferentes. Existe arte pra vender e existe propaganda para conscientizar. A publicidade, assim como a dança, a música, o cinema e as artes plásticas, também tem gerações, estilos e formatos específicos. Por isso que respeito grandes publicitários como verdadeiros gênios, mas nunca entendi direito os grandes artistas.

 

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Henrique passa as manhãs dos dias de semana na ESPM, as tardes dos fim de semana tocando música e as noites de terça vendo a Portuguesa no Canindé.