Convenhamos que é possível fazer um “Top10” dos assuntos mais falados pelas pessoas. Do lado masculino, por exemplo, por mais que uma conversa se inicie em “Política”, há enormes possibilidades (pra não dizer que é certeza) que, em algum momento, a conversa passe pelo tema “Futebol”. É óbvio, pois uma amizade masculina verdadeira, além de se sustentar pela confiança, honestidade e outras coisas, se sustenta também por uma “zoeira” que não tenha limites. Zoar o time do amigo que se encontra numa péssima situação no campeonato brasileiro é quase um hobby. Portanto, baseado numa generalização, é possível sim fazer essa lista.

Entre duas pessoas comuns, que não possuem nenhum vínculo profissional com a Arte e que não estejam, por exemplo, num museu, ou numa galeria, é muito improvável que a conversa desses indivíduos transite pelo tema “Arte”. Talvez isso aconteça por algum estereótipo, preconceito, ignorância (por não ser acessível à todos os públicos) ou desinteresse qualquer. Mas, uma coisa é certa, esse não é um assunto comum de se ouvir entre o moço da banca e seu cliente, por exemplo. E isso, de certa forma, não faz sentido, pois a Arte nos cerca em todos os lugares. E essa “quase onipresença” é uma das principais características da Arte Urbana.

Nas ruas, o que muitos tratam ignorantemente como vandalismo, podemos enxergar fantásticas obras de arte exploradas pelo Grafite. Na Avenida Paulista, por exemplo, ergue-se num dos edifícios, um dos mais belos trabalhos de Eduardo Kobra (imagem acima). O rosto de Oscar Niemeyer, numa espécie de mosaico de cores, consegue criar um diálogo com todo tipo de público, desde o mais rico empresário até o mais pobre morador de rua. Na Avenida 23 de Maio, também pode-se notar o maior mural do Brasil, que se estende sob o viaduto Tutóia com cerca de mil metros quadrados. Kobra, juntamente a outros quatro artistas colaboradores, retratam nesta obra, uma cena paulistana da década de 20.
Além de Eduardo Kobra, que se considera muito mais muralista do que grafiteiro, muitos outros nomes de artistas brasileiros estão conseguindo reconhecimento no exterior, como Tikka, Rage, Crânio, Alex Senna e Binho.

O interessante é que a Arte Urbana é democrática. Você não precisa pagar para vê-la e apreciá-la. Ela está ali, como se fosse mais um cidadão, andando ao seu lado, dizendo sua essência pra quem quiser ouvir. É uma arte livre, se for pensar, pois não depende da aprovação de algum europeu conceituado da indústria artística para ser reconhecida pelas pessoas. E no momento pelo qual passamos, de manifestações e contestações à nossa política, nada melhor do que um pingo a mais de democracia em nossas ruas.

(Obra na Avenida 23 de Maio)

(Obra na Avenida 23 de Maio)

Portanto, é uma arte que está crescendo e conquistando mais pessoas na medida em que novos artistas aparecem. Porém, não se restringe apenas ao Grafite, obviamente. Há muitos outros: malabaristas, músicos, artistas de teatro, palhaços, mímicos, estátuas vivas e etc. Quem sabe na próxima vez que formos à banca, quando não só apenas o gigante estiver acordado, mas também nossa importância com o mundo externo (que é muito maior que o nosso umbigo), nós não ouviremos o moço da banca perguntar ao seu cliente a opinião que ele tem da estátua viva do outro lado da rua. Quem sabe uma menina “patricinha” não pergunte ao gari o que ele acha da interpretação do mímico que se apresenta diariamente no semáforo. Quem sabe um dia não veremos o mais rico empresário dançando ao lado do mais pobre morador de rua conforme à música do saxofonista. Quem sabe um dia, as barreiras do preconceito sejam rompidas e a Arte Urbana possa ser, verdadeiramente, nossa companheira, nossa amiga, ou que pelo menos faça, realmente, parte de nossa rotina e não seja apenas só mais um plano de fundo.

Antes, era apenas mais um garotinho, do interior de SP, com uma cabeça desproporcional ao corpo. Agora, um estudante de Publicidade e Propaganda da ESPM.