Desde que Esquadrão Suicida chegou ao cinema muitas pessoas começaram a mencionar que há uma certa tendência, dentro do universo do entretenimento atual, em trabalhar com a figura do anti-herói.

Enquanto alguns defendam que a equipe de Amanda Waller esteja lá para salvar o dia como heróis, ou anti-heróis mesmo, vale ressaltar que o grande motivo por trás de todos eles é e sempre será: diminuir suas sentenças, afinal quem for contra isso pode dizer adeus.

O grupo é composto por assassinos em série, mercenários, psicopatas que sempre agiram dessa forma por transtornos, dinheiro e principalmente por ser parte de sua índole. As missões dessa equipe “voluntária” consistem, desde sua origem oficial nos quadrinhos em 1987, em trabalhos controversos e de carrascos, coisa que super herói ou anti-herói nenhum o faz.

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Há uma animação da DC, Batman Assault on Arkham, que mostra bem que essa equipe não quer salvar o mundo e dar uma de bonzinho, mas só evitar maiores problemas para o seu lado, pois eles são vilões em sua essência.

Talvez aqui more um dos maiores problemas que as mudanças no roteiro e tom de Esquadrão Suicida fizeram para o filme: passar uma imagem de redenção dessas figuras. Afinal, a premissa dos quadrinhos e dos personagens sempre foi: vilões fazendo um trabalho forçado para o governo.

Dentro dessa discussão nasce também essa questão dos anti-heróis no entretenimento: tendência ou não?

De alguns anos para cá nos deparamos com Dexter, Gru, Jack Sparrow, Django, Aldo Raine e os Guardiões da Galáxia. Eles são alguns exemplos dos personagens do entretenimento que recebem essa alcunha de anti-herói. Mas, isso foi de alguns anos para cá ou nunca reparamos atentamente?
O personagem que não se enquadra nos padrões e normas sempre foi algo atraente, pois serve como um espelho de nós mesmos, o ser humano erra e vai continuar errando.

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Tragédias Gregas já contavam histórias problemáticas familiares e que envolviam personagens nada perfeitos, os próprios deuses possuíam traços humanos, mas certamente um dos primeiros manifestos de um anti-herói no entretenimento vieram das páginas de um russo em 1864. Memórias do Subsolo, de Fiodor Dostoevsky, um livro que trata sobre o existencialismo e traz um protagonista tão peculiar e cheio de defeitos como qualquer ser humano e anti-herói.
Ao discutir temas como a guerra e assuntos filosóficos da humanidade já podemos assumir que seu papel de buscar algo melhor é bastante heróico, não? Mas, ao passar da narrativa suas ações são bastante tortuosas para justificar seus pontos.

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Se não bastasse as narrativas literárias, o cinema teve sua alta dose de personagens que se encaixavam nos moldes de um anti-herói, principalmente com o boom da indústria no gênero Western.

John Wayne, Charles Bronson, Gary Cooper são alguns exemplos dos forasteiros que apareciam para salvar a cidade dos inimigos, os índios e saqueadores, mas mesmo assim não compartilhavam nenhuma característica de moçinho. Talvez o melhor exemplo do anti-herói no gênero seja a figura de Clint Eastwood em Por um Punhado de Dólares de 1964. Imponente, amedrontador, sem nome e moralmente ambíguo uma vez que ajudava a cidade, mas o fazia pelo dinheiro.

Title: FISTFUL OF DOLLARS, A • Pers: EASTWOOD, CLINT • Year: 1964 • Dir: LEONE, SERGIO • Ref: FIS005AX • Credit: [ JOLLY/CONSTANTIN/OCEAN / THE KOBAL COLLECTION ]

George Lucas nos apresentou um grande anti-herói e talvez um dos personagens mais carismáticos de sua franquia, Han Solo. Sim, ele é contrabandista, dava calote no Jabba e só aceitou levar Luke e Obi Wan na missão, porque o Império e outros mercenários estavam atrás dele. Mesmo com a famosa dúvida: quem atirou primeiro? Há momentos que ele se apresenta bastante cético e não acredita na força, além de não ter dito eu te amo para Leia, como um mocinho teria feito. A imagem de Han Solo pode ser atribuída a de mocinho, mas isso está longe de ser verdade.

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A dupla, Vincent e Jules, de Tarantino em 94 também teve sua pitada de anti-heroismo. Além de serem capangas para um chefão mafioso, nada os impediu de salvar o dia quando um casal de bandidos cruzou seu caminho. Vincent é divertido, sabe dançar e Jules traz um humor ácido quando fala da bíblia ou quando está furioso, e mesmo assim, gostamos e muito desses dois capangas.

Dentro da indústria dos quadrinhos, talvez o exemplo mais claro de anti-herói seja o ex fuzileiro naval e agora vigilante, o Justiceiro. Um soldado que queria viver feliz com sua família e esquecer da guerra, mas tudo foi por água abaixo quando eles foram assassinados pela máfia. Desde então seu objetivo sempre foi o mesmo: fazer da sociedade um lugar mais seguro.

Enquanto essa causa parece muito nobre, a maneira como ele encara tudo isso é bastante controversa, pois segue a lógica da guerra que é preciso matar seus inimigos para chegar à paz. O que vale aqui é o fim, é deixar bandidos, estupradores e psicopatas bem mortos e assim, os cidadãos de bem mais seguros.

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Cinema, literatura, quadrinhos, desenhos e séries são e sempre foram recheadas de anti heróis. Pois, eles foram e sempre serão uma representação do nosso desejo de fazer o bem sem ser perfeito.

Com o pé na estrada e a cabeça na lua.