Livro

Amor é um termo guarda chuva

By Luni

June 06, 2022

Termos Guarda Chuva são palavras que englobam diversas outras coisas, como por exemplo, gênero não binário engloba gêneros que saem da binariedade, como agênero, bigênero e gênero neutro. Mas esse texto não é sobre gênero nem termos gramaticais. O texto é sobre amor.

Amor é um tema já rodado. Temos músicas, livros, filmes, séries e inúmeros textos com essa temática, e esse vai ser mais um.

Amor é um termo guarda-chuva. É um termo que engloba milhares de definições e sentimentos diferentes. Em grego por exemplo temos sete tipos de amor: Ágape, o amor universal; Eros, o amor romântico e apaixonado; Philia, o amor sem paixão, amor de amizade; Storge, o amor familiar; Philautia, o amor próprio; Pragma, o amor que surge das circunstâncias, como um casamento arranjado; e Ludus, o amor sem compromisso. Se em uma língua já temos 7 tipos de amor diferentes, como podemos englobar tudo isso em um sentimento só?

Estava lendo o livro Amor(es) Verdadeiro(s), que retrata a história de uma mulher que casa com o amor da sua vida, e no seu aniversário de um ano de casados, ele sofre um acidente de helicóptero. Após dias tentando achá-lo, o declaram morto. Os anos passam e ela encontra uma paixão da época do colégio, eles se apaixonam, e com muita dificuldade, ela acaba aceitando se casar, mesmo continuando amando o marido que tinha. Ela aprende a amar de novo. Com isso, durante o noivado, o primeiro marido é encontrado e ela passa o livro tentando entender como é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. Isso mostra a ideia de que existem amores da sua vida. Diferentes pessoas que iremos amar enquanto vivemos diferentes momentos. É inclusive bem deprimente acreditar que de 7 bilhões de pessoas do mundo só existe uma que daria certo com você. Nossa vida é feita de amores, contos de fadas e contos de falhas, que nos levam a conhecer pessoas diferentes. 

Amor é um termo guarda chuva. É um termo que contém paixão, amizade, carinho, sexualidade, desejo, raiva, tristeza, felicidade e outros milhões de acasos que vem e que vão.

É errado dizer que amar dói. Amar é apenas um sentimento, o que dói é a falta do amor. É a perda, a saudade, o carinho na distância. Se não amássemos não teríamos motivação para sair da cama todos os dias, e não falo isso de um jeito romântico idealista; digo isso na mais pura simplicidade. Se você não se amar, ou não amar alguém, você não sai do lugar. Se você não amar o que você faz, ou amar algo o suficiente para que fazer isso valha a pena, você não vive. É preciso muita maturidade para entender que vivemos sim pelos outros. Vivemos pela validação, pela raiva, pelo desejo e pelo amor que damos e recebemos.

Platão tem em seus textos o mito da alma gêmea. Esse mito explica o desejo humano da forma mais simples possível. Ele diz que no começo, os seres humanos eram “duplas”, tinham quatro pernas, quatro braços e duas cabeças. Eram fortes, inteligentes e poderosos, e começaram a se unir para chegar aos céus. Sentindo a ameaça de chegarem ao Olimpo, Zeus lança um raio para a Terra que acaba dividindo todos esses seres em dois, deixando-os incompletos, vazios, estando sempre em busca de sua metade. Fofo né? Mas calma lá. Não estou falando que temos uma alma gêmea e que precisamos encontrar nossa metade da laranja, a tampa da nossa panela, para sermos felizes. Já disse ali em cima que acredito em diversos amores em uma só vida, mas acho lindo o conceito de não sermos completos sem sentir o amor, não importa a quem ou o que ele seja direcionado.

O querer quer querer. É isso que Schopenhauer diz sobre o desejo. Queremos sempre querer algo, e é isso que nos move. Não nos apaixonamos por causa da pessoa, nos apaixonamos porque precisamos querer alguém. Nós queremos querer, e por mais brega que isso soe, nós precisamos amar.

O amor é um termo guarda chuva. Então ame e se deixe molhar.