#Contos por Ian Perlungieri

Eu sorria e o velho chorava.
Enquanto eu conversava alegre e idiota pelo telefone com aquela garota, o velho chorava ao meu lado. Lágrimas escorriam do seu rosto enrugado e rugas se formavam em meu rosto sorridente.
Além de nós também havia outras pessoas naquele espaço apertado do transporte público. Pessoas cinzentas, conversas altas, um menino que tentava, atrapalhadamente, tocar um violino, uma grávida, dois cachorros e mais pessoas cinzentas.
O artista, a grávida e os animais corriam um grande risco por estarem ali. Todos nós sabíamos que não era permitido, porém ignorávamos. Dificilmente os militares apareceriam. O artista tocava, a grávida conversava, os cachorros latiam, o velho chorava e eu sorria.
Depois da longa conversa, desliguei o celular e o coloquei, com grande dificuldade devido ao grande número de pessoas que me apertavam, em meu bolso.
Observei o transporte novamente: o artista ajeitara o seu violino e tocava alguma música clássica, a grávida dormira, os cachorros deitaram mal acomodados naquele piso porco e o velho, em pé ao meu lado, também dormia.
Ignorei-os novamente. A monotonia deles não abalaria a minha felicidade. Havia acabado de falar com uma mulher linda e, logo, ela seria a minha esposa. Ela só precisaria aceitar o pedido e eu só precisaria comprar o anel.
Entretanto, para comprar o anel, todo aquele caos deveria ser vivenciado. Novas taxas teriam que ser pagas e eu seria o novo último da fila de espera, com um casamento marcado para daqui a 30, 35 anos.
Não poderia esperar tanto tempo. Sim, apelarei para o mercado negro: com a venda do meu celular, conseguiria um anel. Vagabundo, porém um anel. Apalpei o meu bolso com dificuldade para certificar-me que o celular permanecia lá, porém havia apenas o vazio.
Desesperei-me, mas, ao apalpar, involuntariamente, a calça do velho que dormia em pé, percebi que havia colocado o meu celular em seu bolso por engano.
Seria estranho se eu o acordasse para pedi-lo de volta. O velho poderia acusar-me de roubo dizendo que o meu celular era dele e Deus sabe lá o que os militares fariam comigo. Não. Eu o coloquei lá, eu o tiraria de lá.
A massa cinzenta conversava ou dormia e ninguém notaria a minha mão boba entrando no bolso do velho que dormia em pé ao meu lado.
Apalpei o bolso daquela calça surrada e puxei o que acreditei ser o meu celular. Não era. Era ouro. Ouro. Ouro.
Comecei a colocá-lo em meu bolso com um êxtase indescritível. Melhor do que eu sentia com a garota, com o doce, com a luxúria. Nunca havia experimentado algo do tipo.
Esqueci o meu celular. Do bolso só saía ouro e mais ouro. Conseguiria comprar o mercado negro inteiro. Compraria aquilo que a garota sonhava. Compraria aquilo que eu sonhava.
Meu bolso estava carregado de ouro. Estava sendo um dia perfeito.
Porém, de repente, o transporte parou e os militares entraram:
– Mão na cabeça! Todo mundo, todo mundo!
Os cachorros correram, porém um caiu morto devido ao tiro dado pelo militar. O outro escapou. Maldito sortudo!
O violino do artista foi queimado enquanto outros dois mais jovens chutavam a grávida.
– Estamos procurando uma grande quantia de ouro que foi furtada do deputado. – falou aquele que parecia o capitão – Quem aqui tiver algum objeto feito desse material nos acompanhará para a execução.
Olhei para o velho. Ele, assustado, apalpou os bolsos da calça e, curioso, de lá tirou o meu celular.
– Mão na cabeça! Mão na cabeça! Tira mais alguma coisa do bolso que você morre! – gritou um militar para o velho.
O velho larga o celular, que cai no chão e quebra. Ele olhou para mim e soube. Ele sorriu e eu chorei.

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Meu nome não é Alex DeLarge, nem Tyler Durden, nem Mort Rainey. Nunca me chamaram de John Keating. Não sou Ed Bloom, nem Joel Barish. Scott Pilgrim, Carl Allen, Bruce Wayne, Rainer Wenger. Nenhum destes é meu nome. Sou apenas uma peça de um tabuleiro.