Em 2007, Amanda Knox e o rapaz italiano com quem namorava há menos de uma semana, Raffaele Sollecito, foram acusados de assassinar Meredith Kercher, a britânica com quem Knox dividia o apartamento durante seu intercâmbio em Perguia, na Itália. Meredith foi encontrada debaixo de um cobertor ensanguentado, com aproximadamente 40 facadas em seu corpo e evidências de abuso sexual. A Netflix transformou essa história em um documentário chamado “Amanda Knox”, que já está disponível no catálogo, para a felicidade dos fãs de programação gore de crimes reais, como Making a Murderer.

Ambas as produções tratam do mesmo assunto: narrativas de crimes e as subsequentes investigações, com um foco muito maior nas personalidades que dão forma ao processo do que na mecânica desses casos. Ao invés de fazer dessas histórias um grande show, a Netflix opta por algo mais modesto, sem colocar em pauta teorias da conspiração relatadas com a autoridade que um vlogger fazendo um review sobre o final de Donnie Darko.

Também é abordado o motivo desses casos terem tamanha fascinação pelo público: jornalismo completamente parcial, sabem-tudo cheios de suspeitas, processos judiciais questionáveis… E no caso de Knox tem um fator a mais: ela era uma garota com uma vida online ativa, portanto as pessoas podiam ter acesso a praticamente toda sua vida durante o processo, criando um próprio juízo e uma grande intimidade com o caso e fortalecendo acusações sem base alguma.

Amanda Knox apenas fornece no documentário alguns depoimentos de histórias que já são bem conhecidas pelo público, sem comentar sobre as tentativas da polícia de manipular suas emoções, o processo de julgamento, a influência das mídias digitais. No máximo, ela toca no assunto da tortura psicológica que resultou em sua incriminação como uma potencial cúmplice do assassinato. O espectador nunca é convidado a ver a vida pessoal de Knox por mais de um vago momento. Mesmo que queiramos saber mais sobre o que Knox tem a dizer, a estrutura do documentário foi montada de forma que sua voz não tenha muito espaço em comparação com o que a mídia já tinha a dizer sobre o assunto, num tempo onde isso era muito mais importante do que é hoje.

O documentário não deixa nenhuma revelação incrível sobre o caso, mas deixa o espectador com uma alta carga emocional envolvida no tema. Amanda Knox convida o espectadores a fazer o mesmo que fizeram há anos: procurar o quanto os olhos da mídia também são a voz da verdade.

Não conseguiu ser VJ da MTV.