Akira Kurosawa é um cineasta japonês nascido em 23 de março de 1910 em Shinagawa – Tóquio, e falecido em 6 de setembro de 1998 em Setagaya – Tóquio.

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Nascido em uma família relativamente rica, Kurosawa era o mais novo entre 8 irmãos, filho de um ex-membro de uma família samurai e de uma mãe crescida de uma família de comerciantes. Isamu Kurosawa, seu pai, era bastante aberto a tradições ocidentais e era um dos poucos japoneses com bases tradicionalistas que considerava o teatro e o cinema como algo válido para o aprendizado, estimulando seus filhos a assistir filmes.

Outra grande influência para o pequeno Akira foi seu irmão, Heigo Kurosawa, que após um terremoto devastar Tóquio em 1923, levou Akira, então com 13 anos, para ver os escombros. Sempre que Akira tentava desviar o olhar dos cadáveres e dos escombros, Heigo o proibia, encorajando-o a encarar seus medos de frente. Alguns críticos afirmam que essa experiência teve grande influência em seu trabalho, uma vez que Kurosawa dificilmente fugia de assuntos densos em seus trabalhos.

Heigo era muito inteligente, mas após perder sua vaga em uma das escolas mais conceituadas de Tóquio, ele se afastou um pouco da família e começou a se concentrar em seus estudos literários. No fim dos anos 20, Heigo passou a narrar filmes mudos para os cinemas locais, tendo rapidamente se tornado conceituado nesse ramo. Akira, que ainda pensava em se tornar um pintor, foi morar com o irmão e os dois se tornaram inseparáveis. Por causa de Heigo, Akira conheceu inúmeras referências artísticas.

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Heigo (à esq.) e Akira Kurosawa

Com o aumento das produções do cinema falado no início dos anos 1930, Heigo perdeu muitos trabalhos e Akira voltou a morar com seus pais. Em julho de 1933, Heigo se suicidou. Mais de meio século depois, Akira se referia a esse capítulo de sua vida como “uma história que eu não quero contar”.

Em 1935, o estúdio Photo Chemical Laboratories anunciou estar procurando assistentes de direção. Mesmo nunca tendo se interessado em trabalhar com cinema, Kurosawa se candidatou a uma vaga. O diretor Kajirō Yamamoto simpatizou com o jovem Akira e insistiu que o estúdio o contratasse, a partir daí, Yamamoto foi um grande mentor para Kurosawa. Em seus 24 filmes como assistente de direção, 17 foram feitos com Yamamoto.

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Kurosawa e seu mentor, Yamamoto. 

O primeiro trabalho como diretor

No início dos anos 40, pouco depois do começo da guerra entre o Japão e os E.U.A., o romancista Tsuneo Tomita lançou seu livro “A Saga do Judô”, que chamou a atenção de Kurosawa. Ele comprou o livro no dia de seu lançamento e terminou de lê-lo em “uma sentada”, por assim dizer. Imediatamente, Akira pediu para a produtora Toho conseguir os direitor autorais da história, o que mostrou que o instinto de Kurosawa estava certo, pois em pouco tempo 3 grandes produtoras japonesas tentaram adquirir os direitos para produzir um filme com o livro de Tomita.

A filmagem de “A Saga do Judô” começou em Dezembro de 1942 na cidade de Yokohama. Tudo correu bem durante a produção, mas a censura acusou o filme de ser muito “americanizado”, uma acusação grave na época, pois podia soar como uma traição à cultura japonesa. Apenas depois de ter sido defendido por Yasujiro Ozu, o filme passou pela censura. Após seu lançamento, em 1943, “A Saga do Judô” foi um enorme sucesso de crítica e público.

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Pôster de “A Saga do Judô” (1943), debut de Kurosawa.

Alguns trabalhos notáveis

Ao longo de sua carreira, Kurosawa dirigiu em torno de 30 longas-metragem. Eis alguns de seus trabalhos mais importantes:

 

Rashomon (1950)

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Sinopse: Japão, século XI. Durante uma forte tempestade, um lenhador (Takashi Shimura), um sacerdote (Minoru Chiaki) e um camponês (Kichijiro Ueda) procuram refúgio nas ruínas de pedra do Portão de Rashomon. O sacerdote diz os detalhes de um julgamento que testemunhou, envolvendo o estupro de Masako (Machiko Kyô) e o assassinato do marido dela, Takehiro (Masayuki Mori), um samurai. Em flashback é mostrado o julgamento do bandido Tajomaru (Toshirô Mifune), onde acontecem quatro testemunhos, inclusive de Takehiro através de um médium. Cada um é uma “verdade”, que entra em conflito com os outros.

 

O Idiota (1951)

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Sinopse: Kurosawa utiliza um texto de peso do mestre Dostoiévski onde acompanhamos a história de Kameda, um homem que viaja para Hokkaiko e acaba se envolvendo com duas mulheres. A tragédia acontece após uma perceber que não é amada e decidir tomar providências drásticas quanto a sua situação.

 

Viver (1952)

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Sinopse: Kanji Watanabe (Takashi Shimura) é um veterano burocrata que há décadas trabalha diariamente fazendo nada na Prefeitura. Ao descobrir que está com câncer no estômago, ele decide dar um sentido à sua até então desperdiçada vida.

 

Trono Manchado de Sangue (1957)

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Sinopse: Nessa adaptação de MacBeth, de Shakespeare, no Japão do século XVI, os samurais Washizu e Miki encontram uma feiticeira na volta para casa depois de vencerem uma batalha. Ela prevê que Washizu será o Senhor do Castelo do Norte. Esse é o início de uma sangrenta luta pelo poder.

 

Yojimbo, o Guarda-costas (1961)

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Sinopse: No Japão do século XIX, Sanjuro (Toshirô Mifune), um samurai errante, entra em uma pequena cidade rural. Ao descobrir pelo estalajadeiro que a cidade é dividida em duas gangues, Sanjoro coloca os dois lados em confronto, mas quando Unosuke (Tatsuya Nakadai), filho de um dos bandidos, chega à cidade com um revólver os esforços de Sanjuro ficam difíceis e ele sai da cidade. Porém, ao descobrir que Unosuke sequestrou o estalajadeiro, o samurai retorna a cidade para confrontá-lo. (Curiosidade: O filme Três Homens em Conflito, clássico western dirigido por Sergio Leone com Clint Eastwood e Eli Wallach no elenco, foi baseado nesse filme)

 

Dersu Uzala (1975)

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Sinopse: O capitão Vladimir Arseniev (Yuri Solomin) é enviado pelo governo soviético para explorar e reconhecer as montanhas da Mongólia, juntamente com uma pequena tropa. Em meio a expedição eles encontram Dersu Uzala (Maksim Munzuk), um caçador que vive apenas nas florestas. Percebendo que Dersu conhece bastante o local, o que pode facilitar o trabalho, o capitão lhe oferece que acompanhe a tropa até o término da missão. O filme deu a Kurosawa o Oscar de melhor filme estrangeiro.

 

Ran (1985)

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Sinopse: Nessa obra baseada na peça Rei Lear, de Shakespeare, Hidetora (Tatsuya Nakadai), o poderoso chefe do clã dos Ichimonjis, decide dividir em vida seus bens entre seus três filhos: Taro Takatora (Akira Terao), Jiro Masatora (Jinpachi Nezu) e Saburu Naotora (Daisuke Ryu). À partir disso, a insanidade crescente de Hidetora defronte a ambição de seus filhos geram um enorme conflite dentro do clã dos Ichimonjis.

Sonhos (1990)

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8 pequenas narrativas (ou pequenos sonhos) compõem esse que é um dos últimos trabalhos de Kurosawa. Em uma delas, um caminhante encontra um demônio arrependido de suas ações em vida e noutro um pintor acaba entrando em quadros de Van Gogh nessa que é uma das obras mais poéticas do diretor..

 

O mestre em movimento

Uma das principais marcas de Kurosawa é o seu uso do movimento. No vídeo abaixo, criado pelo canal Every Frame a Painting, essa característica do diretor é explorada e apresentado com inúmeros exemplos de seus filmes (tendo até depoimentos de Sidney LumetRobert Altman e Paul Verhoeven).

Não é a toa que ele se tornou um dos maiores realizadores da história, certo? Aproveite o feriado para ver alguns filmes dele, é impossível se arrepender.

Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.