Acredito que todo mundo interessado em cinema já teve uma fase “eu te odeio Adam Sandler”. Falo isso com propriedade: eu mesmo já passei por isso quando decidi fazer do cinema minha carreira ao invés do meu passatempo favorito (e hoje posso assistir “Gente Grande” com a desculpa de estar estudando). Amado pelo público e odiado pela crítica, Adam Sandler com certeza é uma das figuras mais peculiares de Hollywood, tanto por sua relação de amizade com grandes atores e diretores, quanto por seus filmes escrachados que rendem uma fortuna, e hoje vamos entender o porque Mr. Sandler é considerado um caso único dentro da terra das fantasias.

No dia 9 de setembro de 1966 em uma família judia de Nova Iorque, veio ao mundo Adam Richard Sandler em forma de um bebê fofo e peculiar (se não acreditarem em mim, pesquisem por “baby adam sandler” no Google). Nem tanto se sabe sobre a infância de Adam, a não ser que ele sempre teve um grande dom para a comédia e para as artes no geral. Foi seguindo sua inclinação natural para o mundo artístico que Adam se graduou em Atuação na Universidade de Nova Iorque e começou sua carreira profissional como comediante, chegando muito rápido ao clássico Saturday Night Live em 1990.

Não preciso me aprofundar tanto aqui, porque Mr. Sandler não foi bem: ele foi ótimo! Tão ótimo que foi responsável por animar Steven Spielberg durante a gravação de “A Lista de Schindler” (1993). Em pouco tempo a necessidade de voos mais altos se tornou evidente e, em 1995, o comediante favorito dos sábados à noite decidiu entrar de vez no mundo do cinema com “Billy Madison: Um Herdeiro Bobalhão” (1995), sucesso de bilheteria, provando que a graça de Sandler caminhava naturalmente entre shows, televisão e cinema, transmitida de maneira “tão americana”, segundo críticos, que mesmo detestando o filme riram com sua atuação.

O sucesso do filme e seus outros papéis de comédia, lhe permitiram criar sua própria produtora, que, ironicamente, se chama Happy Madison (lembra daquela vinheta em que a bola de golfe quebra a tela no começo de cada filme?) nome originado de seu primeiro papel de destaque. Sua produtora passou a focar no tipo de filme que o fez se tornar esse sucesso comercial tao odiado pelos críticos de cinema; entretanto, esses mesmos críticos sempre amaram Paul Thomas Anderson e, quando esses dois fenômenos de mundos completamente opostos se juntaram, o público ficou completamente surpreso.

É verdade que o diretor tinha um “amor obsessivo” pelo comediante e escreveu o roteiro de “Embriagado de Amor” (2002) pensando justamente em Adam como protagonista, o que é aleatório por si só, um dos principais diretores de seu tempo e amado pela crítica, escrevendo um roteiro pensando no ator mais odiado por ela para ser sua estrela. O resultado é que o filme é tão maluco quanto essa história, mas Adam Sandler provou que mesmo saindo de sua zona de conforto, era capaz de entregar um resultado tão bom quanto se estivesse fazendo um stand-up. Dessa vez o filme foi amado pela crítica, mas mesmo assim não deram o devido reconhecimento para o ator.

Depois dessa experiência um tanto quanto engraçada, Sandler voltou a se dedicar quase que exclusivamente a seus filmes “besteiróis” com algumas exceções como “Reine sobre Mim” (2007). Essa sua fase foi a que me apresentou Adam, e durante toda minha infância eu me diverti com filmes como “Gente Grande” (2010), “Esposa de Mentirinha”(2011), “Zohan” (2008) “Jack e Jill” (2011) e principalmente “Click” (2006) (que merece um texto por si só). Todos esses filmes tem três coisas em comum: a primeira é que a crítica os odeia, a segunda é o sucesso entre o público e a terceira é que todo personagem do Mr. Sandler é trambiqueiro.

Tudo caminhava para uma carreira na zona de conforto, rendendo milhares de risadas e milhões de dólares; foi mais ou menos aqui que decidi estudar cinema e me tornei o típico cinéfilo chato. Entretanto, Adam decidiu se renova, e abraçar o seu lado além do cômico, começando por “Os Mayerowitz” (2017), um filme em que se apresenta com o ator sendo o personagem que já estávamos acostumado, um homem enrolado e cheio de problemas, porém, para a surpresa de todos, o filme não se tornou um besteirol e, sim, um drama sobre uma família judia e as relações entre seus membros, especialmente entre o personagem de Sandler e sua filha. Claro que o filme tem seus momentos de humor, mas é algo tão profundo e sincero que a partir desse momento eu passei a ver Adam com outros olhos, não mais de um ator de comédia, não como um cara pura e simplesmente engraçado, mas sim como um personagem profundo e com um talento para gerar risadas ou lágrimas,  mas que por algum motivo (e eu agradeço por ser assim) escolheu a  risada.

Logo depois chegou “Joias Brutas” (2019) e Mr. Sandler provou para um público ainda maior o seu talento e sua capacidade de gerar sorrisos, lágrimas, tensão, ansiedade e desespero, entregando um Adam totalmente diferente nas telas, um Adam muito mais humano. O sucesso de público parece o acompanhar sempre, e dessa vez não foi diferente: um sucesso dentro do Netflix e finalmente uma conversão  de pequena parte da crítica. Na minha opinião, esse filme deveria entregar a estatueta careca do Oscar para Adam Sandler, mas a crítica ainda não aceitou que Mr. Sandler tem um talento gigantesco, e que deveria ser premiado por isso; talvez porque tenham preconceitos com a imagem Adam Sandler ou talvez porque preferem chorar do que sorrir.