Filmes de terror sempre foram uma forma de analisar o mundo a nossa volta. Quando sentimos medo, colocamos nossas prioridades em perspectiva. O que realmente importa vem a tona quando sentimos que há risco a nossa volta.
Nos últimos anos, com a quantidade exorbitante de Pânicos e Premonições, o gênero perdeu sua característica central de exposição do que temos medo de perder ou nossas normas distorcidas. Nos anos 60 e 70, quando grandes filmes de terror foram produzidos, como O Bebê de Rosemary e O Iluminado, seus temas iam de família a Deus e moralidade em geral, mexendo com pilares da sociedade, muitas vezes esquecidos pelos filmes dos anos 2000 por exemplo.
No entanto, nos anos 80 e 90, o material do gênero começou a decair. Com personagens rasos e narrativas previsíveis, a fórmula dos filmes de terror se tornou norma. Personagens que transassem ou tirassem suas camisas nos filmes já eram pré-destinados a mortes terríveis, isso sem contar os diversos personagens negros que eram mortos com minutos na tela. A perda do choque e crítica social originais de filmes de terror deram material para inúmeras sátiras, como Todo Mundo em Pânico ou O Segredo da Cabana e deixou unidimensional o gênero antigamente tão respeitado.
Porém, lançamentos recentes têm mostrado um retorno ao teor crítico e transgressor dos filmes de terror.
Desde 2015, uma série de filmes de terror de cunho social tem ido aos cinemas. Corrente do Mal, que trata do tabu que são as DST’s, a ansiedade social em volta do sexo, bem como a as vezes assustadora ideia de entrada na vida adulta, A Bruxa, que faz um comentário fortíssimo sobre a sexualidade feminina e Get Out traz como tema o racismo muitas vezes escondido por trás de falas educadas e gestos respeitosos. Os três focando no que fingimos, ou melhor, escolhemos, não ver.
A retomada às origens do gênero mostra uma geração de cineastas sem medo de questionar o que antes tínhamos como regra, olhando para a alta moralização da era de Trumps e Bolsonaros, bem como as diversas máscaras sociais que escondem preconceitos milenares.
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