Aroldo Antares – Supervisor de Operações de Resultados Imediatos em Prazos Otimizados. Gostava mais de meu apelido: “Senhor Eficiência”!

Quando cheguei ao escritório, era uma algazarra: rodinhas ao lado do bebedouro, risadinhas no cafezinho, instgram, pausa para fumar… CORTEI TUDO!

De cara não gostaram, lógico, mas os sites bloqueados e as câmeras nas baias ajudaram bastante a manter esses agitadores sentados. O mais difícil foi implantar o adesivo de nicotina, mas quando restringi o local reservado a fumantes ao playground do prédio, brigavam pelas cartelas. Não tenho culpa se não queriam sujar seus sapatos de areia e fumar na frente de criancinhas no escorregador! É escolha pessoal!

Desde então, os e-mails são respondidos no ato, as mesas estão vazias e os resultados estão aparecendo. Sonhava com meu futuro: “Supervisor-sênior de Operações de Resultados Imediatos em Prazos Otimizados”. A glória!

Certa manhã, estava em minha ronda das onze e trinta, checando cada empregado em sua baia, quando vi algo horrível no fundo da sala:  uma mulher maravilhosa, pele morena, olhos verdes, cabelos longos, metade do corpo dentro d´água…DENTRO D´ÁGUA?!?

Ela não podia atrapalhar o que levei anos para organizar!

Corri até a moça no lago.

– Escuta aqui, mocinha!!! Quem é você e o que está fazendo aqui dentro… desse LAGO no meio da sala?!?

– Oh, venha se refrescar comigo… – disse a beldade.

Aquela mulher maravilhosa, dentro daquele lago cristalino, bebendo água na palma de sua mão, aquele coqueiro ao seu lado, no meio do escritório…era óbvio!

– VOCÊ É UMA MIRAGEM!! – gritei.

– Ai, saco! Já fui mais convincente… – disse, chateada.

– Pois você não vai estragar tudo! Acompanha-me! AGORA!

Levei a sereia para o lado do bebedouro. Fazia tempo que tinha tirado da equipe o péssimo hábito de beber água durante o expediente. Era um lugar seguro. Ninguém a encontraria lá.

– Ficará aqui, moça! Aqui tem água! Se virem um lago no chão, não vão perceber… – de tão patética, não consegui terminar a frase.

Atrás de mim, dois a dois, os olhinhos subiam por cima das baias. Como crocodilos famintos.

– Droga! Aqui não! Onde uma miragem poderia ficar sossegada???

Pertenço às areias escaldantes do deserto, meu senhor!

Eu estava perdendo o controle da situação.

Antes que o caos voltasse ao escritório e minha promoção se perdesse, tive uma grande idéia. Eu lhe falei de um lugar onde nos sentiríamos no deserto. Sua gratidão me confortou. Partimos em silêncio.

Os dias se passaram e a eficiência já não era a mesma. Os homens da equipe voltaram a fumar. Desciam os dez andares, sentavam na areia, ao lado das crianças e acendiam seus cigarros, felizes a observar a moça a matar sua sede no meio do playground.

A situação chegou ao seu limite. Tinha que tirar a situação a limpo com a miragem.

Desci as escadas, me dirigi à rapariga e lhe perguntei: “Tens fogo?”.