Com mais notícias do curta metragem de Almodóvar, Strange Way of Life, estrelado por Ethan Hawke e Pedro Pascal, o  nome do último ator, que já estava no auge de sua carreira, conseguiu ainda mais notoriedade e isso me fez ter uma pergunta: Até onde esse homem vai chegar?

Mas quem é Pedro Pascal

José Pedro Balmaceda Pascal é um ator chileno-estadunidense, mais conhecido por estrelar em The Mandalorian, Narcos, The Last of Us e Game of Thrones, sendo esse último seu primeiro papel de notoriedade. Pedro começou a atuar em 1996, aos 21 anos, participando de peças de teatro e pequenos papéis em séries, mas seu nome só se tornou internacionalmente conhecido em 2014. 

Ele já era conhecido e amado pelos fãs de GOT e Star Wars, no entanto, só participou de uma temporada da primeira (tempo suficiente para perder a cabeça) e usou um capacete 90% da segunda. O que alavancou mesmo sua imagem, seu rosto, foi o protagonismo na série da HBO, The Last of Us, onde protagonizou Joel, um homem que endureceu o coração depois de perder sua filha, mas o suavizou quando adotou outra.

Outro fator que alavancou sua imagem foram os edits (edições de vídeos ou fotos com transições para fins recreativos) no TikTok, servindo até de referência para um quadro durante sua participação no Saturday Night Live. Uma coisa curiosa é que o principal edit que inspirou o quadro nem era de Joel, mas sim do Agente Wiskey, o antagonista do filme Kingsman: O Círculo Dourado.

Essa coisa dos edits chegou a um ponto onde minha mãe, repito, MINHA MÃE, me manda links do Tik Tok com edições desse cara. 

Para os curiosos: 

Com tantas adaptações no portfólio, eu retomo a minha pergunta: Até onde esse homem vai chegar? 

A Pedro Pascalização das adaptações para o audiovisual

A atuação do chileno é sensacional; ele consegue interpretar desde um gótico satanista até um milionário fã do Nicholas Cage. Não precisa das expressões faciais, Pedro consegue mostrar a profundidade de um personagem só com o corpo e voz, como mostrou em The Mandalorian.

Segundo uma pesquisa divulgada pelo site The Chaser, cientistas preveem que toda série que se popularizará até 2050 tem grandes chances de terem o ator chileno-americano, Pedro Pascal, escoltando uma criança mágica até um local seguro. As primeiras evidencias, disseram, foram em The Mandalorian, mas esta não levantou suspeitas até o evento se repetir novamente no início de 2023.

Depois do primeiro casting de sucesso, sua participação em séries e papéis cada vez maiores foi avançando como um efeito dominó.

Game of Thrones

Para aqueles que não sabem, Game of Thrones é uma série e, em sua maior parte, adaptada dos livros das Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin. Não disse que foi completamente baseada ou adaptada pois, além das decisões tomadas por liberdade criativa, não havia mais material sobre as Crônicas porque o autor ainda não havia terminado o sexto livro quando a série chegou na 6ª temporada (e não terminou até hoje). 

Pedro já havia feito uma audição para a série para um outro papel, mas não foi escolhido, no entanto, ele pediu para sua amiga íntima, Sarah Paulson, para que enviasse sua audição para sua amiga e esposa de David Benioff, criador da série Game of Thrones. Os criadores ficaram tão impressionados com sua performance que o escalaram para interpretar o sedutor e perigoso príncipe Oberyn Martell, a Víbora Vermelha.

Não participou por muito tempo, 8 episódios da 4ª temporada, mas foi tempo suficiente para que se tornasse um dos personagens mais memoráveis e queridos da adaptação. Um ícone bissexual, senhoras e senhores. 

Pedro chegou a ser indicado por sua performance para o prêmio de Melhor Elenco de Série Dramática no SAG Awards (Prêmio do Sindicato dos Atores), mas perdeu para Breaking Bad.

Narcos

Mesmo não levando o prêmio para casa, a performance de Pedro Pascal não passou despercebida. No ano seguinte já estreava como o agente Javier Peña. Não nos aprofundaremos nessa obra por não ser uma adaptação, mas precisamos passar por ela por ter sido o primeiro protagonista interpretado pelo chileno. Mesmo a série não sendo centralizada nele, o agente possui sua própria trama e núcleo. Mesmo que não tenha sido o maior sucesso de audiência no momento, a performance de Pedro foi tão impressionante que o fez ser escalado para o papel que o fez atingir a fama.

The Mandalorian

Pedro não foi a primeira audição para interpretar o caçador de recompensas Din Djarin, mas foi quem o diretor Jon Favreau (para os leigos, o Happy, guarda-costas do Tony Stark) escolheu. 

Esse papel requeriu muito da atuação de Pedro por conta da caracterização do personagem; ele teria que se expressar pela voz e corpo, sem poder usar o rosto. Mesmo com o capacete, é possível ver a complexidade do caçador de recompensas e sua evolução conforme a série avança. No começo ele é estoico como os robôs caçadores, mas com a convivência com Grogu (nosso querido bebê Yoda), seu lado humano começa a rachar seu coração gelado.

Mulher-Maravilha e Kingsman 

No mais recente filme solo da heroína amazona, Mulher-Maravilha 1984, Pedro traz à vida o caricato e excêntrico vilão Maxwell Lord, que possui um artefato mágico que realiza desejos, mas, como um bom capitalista, ele cobra o olho da cara para que outros o usem. O chileno chegou a se inspirar no ator Nicholas Cage para interpretar o empresário (em 2022, os dois contracenaram no hilário filme “O Peso do Talento”, onde Nicholas Cage interpreta ele mesmo e Pedro um milionário e maior fã do ator).

Todos sabemos que Diana Prince tem sua origem nos quadrinhos, mas você sabia que Kingsman também é uma adaptação? O quadrinho de 2012 escrito por Mark Millar e desenhado por Dave Gibbons conta a história do jovem rebelde, Eggsy, que é recrutado para se juntar ao serviço secreto pelo seu tio, o agente Jack London, mas no filme não existe esse laço sanguíneo e o agente foi renomeado “Harry Hart”. 

A aparição de Pedro se dá no segundo filme da franquia, “Kingsman: O Círculo Dourado”; quando os estadunidenses e britânicos precisam se unir para combater as ameaças de uma traficante, interpretada por Julianne Moore. Pascal interpreta o agente dos EUA, Whiskey, caracterizado por um chapéu de cowboy e sua principal arma, um chicote. Depois de revelar como seus motivos, o agente se torna o anti-herói e precisa lutar contra Eggsy e um Galahad caolho. O personagem de Pedro é a personificação do estereótipo estadunidense patriota com o sotaque típico texano (estado, inclusive, em que o chileno cresceu), modo de andar despojado e até um paraquedas com a bandeira dos EUA. Com certeza Agente Whiskey é um dos papéis mais icônicos de sua carreira (perdendo apenas para Javier, Joel e Oberyn, na minha opinião).

The Last of Us

Se eu recebesse um real para cada vez que Pedro Pascal interpretou um homem solitário que teve seu coração de gelo derretido por uma criança com algum diferencial quase mágico que hesitou muito sobre se continuaria com ela ou não num mundo se recuperando de uma desgraça em larga escala, eu teria dois reais, o que não é muito, mas é estranho que tenha acontecido mais de uma vez.

Pedro Pascal interpreta Joel Miller, um homem texano (solitário de coração congelado) que precisa levar Ellie (a criança mágica) para uma base de uma organização rebelde para que possam desenvolver uma cura para o fungo que causou o fim do mundo que conhecia. 

Cada episódio foi um show diferente. A relação que os dois trouxeram do jogo para a tela conquistou tanto os jogadores apaixonados pela obra original como a audiência que interagia com o universo pela primeira vez. Toda a construção da dinâmica hostil e profissional, referindo-se à garota como uma “carga”, evoluindo para o remédio para as dores deixadas por aqueles que haviam perdido, uma família. Joel foi de proteger Ellie por ser um dever para fazer isso por amor e medo de perdê-la.

O chileno retrata as emoções de Joel com maestria, mostrando tanto pelas emoções faciais (liberdade que não tinha com a outra criança mágica) como voz e linguagem corporal. 

A série foi indicada a 3 prêmios no MTV Movie & TV Awards até o momento em que escrevo isso (abril/23), sendo eles: Melhor dupla (Bella Ramsay e Pedro Pascal), Melhor Herói (Pedro Pascal) e Melhor Beijo (Anna Torv). Honestamente, o último me deixou confusa. Com um belíssimo episódio dedicado completa e exclusivamente para um casal, construindo a relação deles do início ao fim, o beijo Bill e Frank não foi indicado, mas essa coisa foi.

Mas né, se a MTV acha que isso foi melhor…

Desde o início da história do cinema, os latinos foram representados de forma superficial e estereotipada. Ainda no cinema mudo, especialmente os mexicanos, eram mostrados como bandidos caricatos, preguiçosos e atrapalhados. 


De criminosos evoluímos para símbolos sexuais, especialmente as figuras femininas, com sotaques, figurinos e apelos exóticos. Carmen Miranda é um exemplo. Não demorou para que viessem os romances proibidos com os irresistíveis amantes latinos.

De símbolos sexuais voltamos para criminosos, mas ainda arrasando corações paralelamente. Quando o latino era protagonista, logo visto de outra forma além de carne e perigo, um estadunidense/europeu o interpretava.

De alguns anos para cá pudemos ver a ascensão dos latinos na indústria cinematográfica estadunidense sem interpretarem papéis estereotipados. Estão encenando personagens que não necessariamente nasceram em países das Américas do Sul e Central, como europeus e norte-americanos. Enfim, o jogo virou.

Alguns atores latinos (exceto Pedro Pascal) que veem chamando a atenção dessa sociedade WASP (Branca, Anglo-saxã e Protestante) são Alice Braga, Rodrigo Santoro, Wagner Moura, Diego Luna, Oscar Isaac, Sofía Vergara, Ricardo Darín e Salma Hayek. 

Diversas culturas sofreram com o etnocentrismo dos EUA e ainda sofrem. A batalha por uma representatividade verossímil está bem longe de acabar, se é que algum dia vá acontecer.