Está marcada para o dia 12/04 uma nova manifestação em várias cidades do Brasil. Ela terá a difícil tarefa de repetir o impacto daquela de 15/03.

Nela, reuniram-se pessoas que protestavam contra a corrupção. Uma minoria pedia o impeachment da presidente e meia dúzia de gatos pingados pediam a volta do regime militar.

Algumas características das manifestações de junho de 2013 foram mantidas, sobretudo o apartidarismo. Algumas figuras públicas procuraram tomar o microfone e se tornar porta-vozes da multidão e foram recusados. Gente como Paulinho da Força, Aloísio Nunes Ferreira e Bolsonaro. Gente de espectros políticos bem distintos, como se vê.
De diferente de 2013, o fato de que a manifestação foi estática. Em São Paulo, o grupo se reuniu na Avenida Paulista e por lá ficou circulando. Diferente também foi a constatação de que a maior parte dos participantes nunca havia saído às ruas com esta intenção antes.

Chamo a atenção para a presença da mídia no sucesso do evento. Desde cedo, redes de tv transmitiam direto da Paulista e asseguravam a todos de que o evento não era radical e que não havia blackblocs ou qualquer forma de violência. Mais do que noticiar e informar, a transmissão foi propaganda ostensiva. Conforme se assegurava que tudo ia bem, pessoas começaram a ir em família.

O papel da mídia na construção da realidade tornou-se ainda evidente na divulgação da quantidade de pessoas que afluíram ao evento. Segundo a polícia, um milhão de pessoas passaram pela Paulista; Segundo o Datafolha, pouco mais de duzentas mil. É claro que duzentos mil é um número impressionante, mas um milhão é, simbolicamente, um número mágico.

Em termos públicos, a situação política não se alterou. Em termos velados, a presidente sofreu mais um duro golpe com a manifestação de março e perdeu a força do apoio popular que havia ganho poucos meses antes ao ser eleita. Há quem diga que já houve um impeachment ou uma renúncia velados, com o vice e seu partido assumindo o poder.

Vamos acompanhar também com a perspectiva da Comunicação o evento de domingo.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

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