Uma característica bastante marcante dos dias atuais é que a moda antiga está voltando em vários âmbitos, seja nas vestimentas ou até mesmo na própria música. Como minha mãe diria: “Filha, estou na moda!”. Mais do que nunca, vem crescendo cada vez mais a influência da disco music na música pop atual, caracterizada pelo uso marcado da bateria em compassos simples e com o uso de bumbo e caixa em destaque, o que dá vontade de criar uma coreografia e começar a dançar. Você acha que foi à toa que a música “Don’t Start Now” da Dua Lipa fez tanto sucesso com a coreografia da Manu Gavassi no BBB 20?

Vou aproveitar a Dua Lipa para dar o primeiro exemplo. O último álbum dela, Future Nostalgia, tem claramente uma influência super forte da música disco dos anos 80, com a presença de sintetizadores e a bateria citada anteriormente. A música popularizada no Big Brother de 2020 tem bumbo e caixa compassados com o BPM da música, ou seja, estão em semínima. Em outras palavras, é como se eles te acompanhassem enquanto você bate seu pé na batida da canção. Isso em adição ao baixo, também característico da música disco por ser influência do funk, faz uma batida feita para ser base de uma coreografia fácil para todos acompanharem

Outras músicas do álbum trazem a mesma vibe: Physical, Levitating, Break My Heart, Fever, entre outras. O álbum da cantora trouxe, além dessa sonoridade, a estética retrô. A coreografia é muito presente em todos seus clipes, o que nos transporta diretamente para as baladas dos anos 80 que, muito infelizmente, eu não estava nascida para ver, mas sei que as pessoas costumavam se juntar em rodas de dança nas discotecas.

Ela recebeu no Grammy neste último domingo (14), um prêmio de Best Pop Vocal Album por Future Nostalgia e apresentou duas de suas músicas aproveitando-se da estética do álbum. Ela cantou Levitating com o rapper DaBaby e Don’t Start Now, dois hits que não saíram do ouvido das pessoas em 2020 e marcam as charts até hoje. A apresentação começa com um show de projeções em direção à câmera as quais, na hora que eu vi, pensei diretamente em clipes antigos. Houve a presença de dançarinas e uma coreografia marcante, roupas brilhantes e luzes miradas para a câmera que nos davam a impressão de mais brilho ainda na tela.

Ademais dessa apresentação, outra que não saiu da boca do público foi a da Silk Sonic, nova dupla formada pelos cantores Bruno Mars e Anderson .Paak. A música “Leave The Door Open”, que lançou recentemente, GRITA anos 70. O prato da bateria marcado, o andamento, o uso da voz, as vozes de fundo acompanhando cada frase dos versos… Fui mostrar pra minha mãe para ver o que ela achava e ela falou que, de fato, lembrava muito os anos 70. Perguntei pra ela o motivo e ela, que não é familiarizada com a linguagem musical falou que o gingado era característico e eu não sei botar isso em outras palavras então vou deixar assim mesmo e estou contando com que você tenha escutado a música para saber o que eu estou falando.

Fica mais fácil ainda de entender após ver a apresentação da dupla no Grammy. Primeiramente, o figurino com a calça boca de sino, os óculos, o blazer, as posições no palco, as mesmas luzes presentes na apresentação da Dua Lipa, miradas para a câmera, dando a impressão de glitter, a coreografia. Enfim, impossível dizer que não existe uma influência que vem sendo recebida de braços abertos pelos novos anos 20.

Essa é uma estética que o integrante Bruno Mars trouxe da sua era 24k Magic. Músicas como Versace on The Floor, Chunky, Perm e o primeiro single 24k Magic mostram isso. Não só nessa época, mas também em músicas como a famosa Treasure, em que o clipe mostra uma clara influência de épocas passadas.

Um injustiçado pela premiação da Academia que traz esses traços em suas músicas é o The Weeknd. Seu último álbum After Hours traz as mesmas características citadas anteriormente. O single Blinding Lights, batedor de recordes, traz a mesma bateria usada pela Dua Lipa e um piano com sintetizador responsável pela melodia que lembra muito os anos 80. Outra música de seu álbum que mostra essa influência é Save Your Tears.

Podemos, portanto, dizer que o “novo novo” é o velho e que, assim como aprendemos na aula de história do ensino médio, a história é sim em espiral, ou seja, estamos sempre repetindo algo que já aconteceu ou reapropriando a moda antiga e a música prova isso. Se você gosta de músicas nesse estilo, além de checar as grandes bandas e artistas dos anos 70 e 80 você pode escutar artista atuais como Tame Impala, que traz uma voz reverberada, a bateria e os sintetizadores em músicas como Borderline e I’m A Man, por exemplo que vão trazer os mesmos sentimentos de anteriormente. Além disso, a Japanese Breakfast lançou uma música chamada “Be Sweet” esse ano que, ao escutar, te transporta imediatamente para os anos 80 e lembra muito cantoras como Madonna e Cyndi Lauper.

Essa é uma tendência que, ao meu ver, está sendo muito bem aproveitada. Como uma menina que sempre quis ser uma adolescente nos anos 80, estou conseguindo ter um pouco desse sentimento com as músicas recentes. É um estilo de música que consegue agradar pessoas de muitas gerações, já que traz nostalgia para quem viveu e impressiona quem não teve o prazer ainda. Com certeza é algo que ainda vamos ver muito e é uma tendência que, provavelmente, perdurará.