TV & Cinema

A febre das produções tão ruins, que são genialmente boas.

By Juliana Fonseca

November 22, 2017

Sabe aquele sentimento que faz você sair do cinema sem saber distinguir direito se você amou ou se odiou o filme? Ou quando você ouve uma música e não sabe opinar sobre? Sem generalizar, mas isso pode ser um sintoma de uma característica que se alastrou pelo cinema chamada: mas é tão ruim que é bom. Como uma grande epidemia, a ideia consiste em trazer extremos para a tela, seja pela simplicidade ou pelo exagero de um movimento de câmera, atuação e até falas.

O que por muitas vezes é caricato em um âmbito teatral, quando levado para o corpo de um vilão, e usando como exemplo o Capitão Gancho de Piratas do Caribe, pode ser o grande segredo de uma boa atuação. Vamos concordar, o que seria da vida sem as pérolas do cinema como Sharknado e O Todo Poderoso, que abusam do limite da realidade e trazem filmes extremamente engraçados. Sem dúvidas, as paródias e comédias em geral se aproveitam mais desse exagero para tirar algumas risadas, mas não é uma técnica própria do gênero, aliás o genial é exatamente quando colocado para fora do usual.

Wes Anderson e Quentin Tarantino são especialistas em balancear esses momentos, colocando-os de uma maneira espontânea, formando o topo da cereja em muitas produções. Wes Anderson com os seus movimentos de câmera peculiares, que por muitas vezes nos coloca dentro da tela, transformando o que seria bizarro se visto em um projeto experimental em marca registrada do diretor. Quentin Tarantino já trabalha mais o conceito em seus personagens, levando Beatrix Kiddo a fazer coisas humanamente impossíveis, lutando com vilões mais bizarros ainda, com toda uma pegada satírica nos sons e na trilha sonora.

Não podemos falar em produções tão bizarramente ruins sem citar o grande pai de todo esse movimento: The Room. O filme experimental, estrelado, produzido, escrito e dirigido por Tommy Wiseau. O filme que levou pessoas a assisti-lo prioritariamente por ser muito ruim é um clássico inacreditavelmente bom, e assim será para muitos fanáticos até que provem o contrário.

A febre não chegou só no cinema, atingindo também a música, e talvez o ouvido de algumas pessoas que julgam fielmente que todas as produções cacofônicas são extremamente boas, o que chega a ser um absurdo. O maior exemplo disso seria o álbum Trout Mask Replica, do irreverente Captain Beefheart, onde cada instrumento está tocando em um ritmo diferente, e por incrível que pareça está em 60º posição na lista dos melhores álbuns de todos os tempos pela Rolling Stone.

Outro exemplo, e esse um pouco mais ousado do que o anterior (se é que isso é possível) é a orquestra Portsmouth Sinfonia. Composta apenas por músicos amadores, iniciantes, ou que nunca tocaram na vida, que resolveram se juntar e gravar alguns clássicos orquestrais. As músicas de grandes compositores como Johann Strauss II, com a linda valsa do Danúbio Azul foram regravadas, e até que dá pra reconhecer. O resultado não foi tão ruim quanto imaginado, mas até que é bom (e esse é o espírito da coisa).

Loucura ou não, a certeza que nós temos é que vende, e tem muitas pessoas que apreciam essas produções (ou não tem tanta certeza assim de sua opinião).