Sabe aquele sentimento que faz você sair do cinema sem saber distinguir direito se você amou ou se odiou o filme? Ou quando você ouve uma música e não sabe opinar sobre? Sem generalizar, mas isso pode ser um sintoma de uma característica que se alastrou pelo cinema chamada: mas é tão ruim que é bom. Como uma grande epidemia, a ideia consiste em trazer extremos para a tela, seja pela simplicidade ou pelo exagero de um movimento de câmera, atuação e até falas.
O que por muitas vezes é caricato em um âmbito teatral, quando levado para o corpo de um vilão, e usando como exemplo o Capitão Gancho de Piratas do Caribe, pode ser o grande segredo de uma boa atuação. Vamos concordar, o que seria da vida sem as pérolas do cinema como Sharknado e O Todo Poderoso, que abusam do limite da realidade e trazem filmes extremamente engraçados. Sem dúvidas, as paródias e comédias em geral se aproveitam mais desse exagero para tirar algumas risadas, mas não é uma técnica própria do gênero, aliás o genial é exatamente quando colocado para fora do usual.
Wes Anderson e Quentin Tarantino são especialistas em balancear esses momentos, colocando-os de uma maneira espontânea, formando o topo da cereja em muitas produções. Wes Anderson com os seus movimentos de câmera peculiares, que por muitas vezes nos coloca dentro da tela, transformando o que seria bizarro se visto em um projeto experimental em marca registrada do diretor. Quentin Tarantino já trabalha mais o conceito em seus personagens, levando Beatrix Kiddo a fazer coisas humanamente impossíveis, lutando com vilões mais bizarros ainda, com toda uma pegada satírica nos sons e na trilha sonora.
Não podemos falar em produções tão bizarramente ruins sem citar o grande pai de todo esse movimento: The Room. O filme experimental, estrelado, produzido, escrito e dirigido por Tommy Wiseau. O filme que levou pessoas a assisti-lo prioritariamente por ser muito ruim é um clássico inacreditavelmente bom, e assim será para muitos fanáticos até que provem o contrário.
A febre não chegou só no cinema, atingindo também a música, e talvez o ouvido de algumas pessoas que julgam fielmente que todas as produções cacofônicas são extremamente boas, o que chega a ser um absurdo. O maior exemplo disso seria o álbum Trout Mask Replica, do irreverente Captain Beefheart, onde cada instrumento está tocando em um ritmo diferente, e por incrível que pareça está em 60º posição na lista dos melhores álbuns de todos os tempos pela Rolling Stone.
Outro exemplo, e esse um pouco mais ousado do que o anterior (se é que isso é possível) é a orquestra Portsmouth Sinfonia. Composta apenas por músicos amadores, iniciantes, ou que nunca tocaram na vida, que resolveram se juntar e gravar alguns clássicos orquestrais. As músicas de grandes compositores como Johann Strauss II, com a linda valsa do Danúbio Azul foram regravadas, e até que dá pra reconhecer. O resultado não foi tão ruim quanto imaginado, mas até que é bom (e esse é o espírito da coisa).
Loucura ou não, a certeza que nós temos é que vende, e tem muitas pessoas que apreciam essas produções (ou não tem tanta certeza assim de sua opinião).
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