Quinta-feira passada fui à Feira dar uma olhada nas novidades e conferir a alta dos preços dos produtos, diante da crise econômica que estamos vivenciando. Confesso que fiquei meio perdido diante de tanta oferta e não soube selecionar a real qualidade do material oferecido, dada a sua enorme quantidade. Obviamente, não fui para comprar, mas, sobretudo, para observar os frequentadores-compradores. Confesso que sou um voyeur destes produtos inatingíveis.

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Trata-se de uma Feira de Arte: a 11ª edição da SP-Arte em que participaram 141 galerias de 17 países, das quais 83 eram brasileiras, levando cerca de 3000 obras para ocupar os três andares do Pavilhão criado por Oscar Niemeyer. A grande quantidade de expositores estrangeiros, dentre elas as duas mais poderosas do mundo, a Gagosian Gallery e a White Cube, já aponta para o aquecimento do mercado de arte. Para se ter uma ideia, em um balanço parcial da feira em 2014 mostra que seu faturamento aumentou quase 60% de um ano para o outro, passando de R$ 99 milhões para R$ 157 milhões. Percebe-se que, mesmo com a crise no Brasil e fora dele, o mercado da arte se mantém aquecido apesar dos preços estratosféricos pedidos pelas obras.

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A principal novidade da atual edição é a ocupação do terceiro andar do prédio da Bienal no Ibirapuera com o setor Open Pan, criando um espaço ou segmento que difere do resto da feira, dando ênfase nos artistas e em obras de grandes dimensões. Assim, pude circular por entre a impressionante e bela obra cinética de Julio Le Parc, um imenso círculo azul formado por pedaços de acrílico, como também rever a incrível instalação “Cirandar Todos” do brasileiro José Damasceno.

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Depois do longo passeio, resolvi conhecer a pesquisadora canadense Sarah Thornton que daria uma palestra sobre a instigante e polêmica relação entre Arte e Mercado. Ela é a autora do livro “O que é um Artista?” que estava sendo lançado no evento, e trata dos “sórdidos bastidores da arte contemporânea”.

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Thornton desmistifica e, ao mesmo tempo, valoriza a figura de Marcel Duchamp, por estar à frente de seu tempo e por entender perfeitamente que o artista pode se transformar em marcas. Duchamp percebeu que o significado da arte não está fechado num objeto colocado num pedestal ou numa moldura, mas que a arte absorve significados externos, o que inclui a persona pública de seu autor.

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Por fim, diante de tanta informação e dos preços surreais das obras, fui andando pelo Parque do Ibirapuera. A tarde estava belíssima, com um pôr-de-sol deslumbrante. Imediatamente me lembrei do gênio Van Gogh que dizia: “A Natureza é a verdadeira obra de Arte”. Tirei duas fotos em homenagem ao pintor, afinal, diante de meus olhos estava a obra de arte mais perfeita do mundo, pintada pela própria natureza, e ofertada de graça, sem ágio, impostos e falso glamour. Definitivamente: Deus está nos detalhes.

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João Carlos Gonçalves (Joca)

Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

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