“O homem constrói muitos muros. E pontes insuficientes”
A frase de Sir Isaac Newton reflete bem os dias atuais. Na publicidade, o que era hermético e cada vez mais fechado para solucionar um problema específico de comunicação passou a carregar uma preocupação crescente com a sociedade.
Se examinarmos os cases mais impactantes veremos que foram justamente aqueles que tinham alguma preocupação social que se destacaram. Não é diferente na Arquitetura, que também vive um momento de questionamentos e preocupações em relação ao convívio entre homem, edifício e comunidade. E como está difícil viver nas cidades.
Acho interessante ver marcas de refrigerantes como a Pepsi, encontrarem soluções simples e ao mesmo tempo revolucionárias para solucionarem mais de um problema ao mesmo tempo: o de uma comunidade e o do lixo gerado pelo consumo de seus produtos.
Me refiro à campanha feita na Indonésia, onde comunidades inteiras vivem na escuridão de suas casas sem eletricidade. Ao transformar velhas garrafas de Pepsi em lâmpadas solares, mudam de forma positiva e radical a vida de muitas pessoas.
É uma maneira de dar um fim digno ao lixo produzido pela própria marca. É o que eu, como marca, devolvo para a sociedade.
Nesse mesmo sentido, é interessante ver projetos de arquitetura fortemente apoiados na sustentabilidade e que procuram economizar recursos naturais, diminuir a emissão de carbono e o custo de manutenção. Aquela visão do prédio voltado só para si já tem vertentes mais inteligentes.
O San Francisco Federal Building, na California, é um edifício projetado para consumir menos da metade da energia de um prédio de escritórios padrão. Foi o primeiro prédio de escritórios com ventilação natural ao invés do ar condicionado. Mais: para favorecer o exercício físico, saúde e interação social, os elevadores param de 3 em 3 andares. Isso acaba levando a um uso regular das escadarias.
Em uma escala maior, vemos que é possível diminuir de verdade as diferenças sociais de comunidades através de uma visão criativa e ousada. Ao invés de construir muros, que tal unir moradores do morro e baixada através da implementação de teleféricos?
Isso aconteceu na cidade Medellín, na Colômbia, tida até então como uma das mais violentas do mundo. Comparativamente, a taxa de homicídios era cem vezes maior que a média mundial. Após a implementação do novo sistema de transporte, a viagem que durava até 1 hora foi reduzida a menos de 10 minutos. Isso ajudou a aproximar comunidades rivais e diminuir o muro invisível que dividia fisicamente pobres e ricos. Outro efeito benéfico da iniciativa é o aumento do turismo.
O sucesso colombiano gerou um filhote tupiniquim: o Teleférico do Complexo do Alemão.
O celular munido de GPS é uma poderosa ferramenta na mão dos cidadão: permite o amplo compartilhamento de histórias e inspirações que, cruzados com informações de geoposicionamento, inundam de dados cada canto da cidade.
Graças a plataformas digitais de crowdsourcing, o pensar coletivo voltado à melhoria das cidades tem ganho a força e permitido a participação maciça dos moradores no apontamento de problemas e soluções em suas comunidades.
É essa riqueza de informações que permite discutir com maior embasamento questões importantes como transporte, educação, segurança e alimentação. Do lado dos prefeitos, fica uma excelente oportunidade de identificar e priorizar o ataque aos problemas do município. Tudo embasado com dados, depoimentos, fotos e mapas.
Hoje é possível discutir e aprender com cidades espalhadas pelo mundo. Em muitos casos, como no caso de Medellín e Rio de Janeiro, as soluções podem ser bem similares.
E, se a tecnologia está permitindo quebrar os muros entre comunidades. Será que é possível mudar o comportamento de povos?
Embora o teletransporte ainda não exista como nos filmes de Star Trek, nada impede que se coloque vending machines interativas em países historicamente em conflito como a Índia e o Paquistão. As máquinas deixam de ser pontos de venda para se tornarem portais virtuais de um mundo para outro.
Ao utilizar transmissão de vídeo em tempo real, a Coca-Cola conseguiu com isso criar uma poderosa experiência de conexão entre povos que, ao repetirem movimentos, gestos e danças simultaneamente, quebram barreiras e geram empatia. Estranhos se olham através de uma janela que reforça a idéia de que somos todos parecidos e que intolerância não faz sentido algum.
Gosto da idéia de que a internet é uma tecnologia disruptiva e que possiblita a conexão sem precedentes entre as pessoas. O que estamos presenciando é o começo de uma era onde todos buscam a construção de pontes úteis, relevantes e que façam sentido, numa sociedade cada vez mais entorpecida pelo efêmero e vazio.
E que se construam mais pontes!