Em 2006, o artista paulista Eduardo Srur colocou no rio Pinheiros, no centro de São Paulo, 100 caiaques ocupados por 150 manequins de plástico, dando origem a intervenção “Caiaques”, reconstituindo uma cena comum na capital paulista até a década de 1940: habitantes em seu lazer desfrutando das margens limpas e claras do rio. O misto de estranhamento e fascínio provocado pela obra trouxe consigo reflexões sobre as águas poluídas do Pinheiros. “É um rio que morreu por falta de cuidado. Com a intervenção, todos foram obrigados a ver o que não queriam”, lembra o artista para quem a realidade cotidiana adormecida na mente do público pode se alterar frente a esse tipo de impacto visual. Essa relação entre homem e ambiente urbano tem direcionado fortemente a obra de Srur, chamando a atenção da comunidade nacional e internacional para o seu trabalho poético e político.

Coluna 5 - Foto 6

Coluna 5 - Foto 7

Dois anos depois, em 2008, vinte garrafas PET gigantes e iluminadas foram instaladas às margens do mesmo rio. As garrafas foram distribuídas ao longo de 1,5 km entre as pontes do Limão e da Casa Verde; cada peça media cerca de 10 metros de comprimento por 3 metros de diâmetro. Mais uma vez Eduardo Srur nos fez lembrar da precária condição ambiental em que a cidade mergulha cada vez mais, ou seja, a instalação pretendia abordar a questão da degradação ambiental em um dos principais marcos da poluição urbana em São Paulo.

Coluna 5 Foto 8
BRAZIL/

Na semana passada (19 de setembro, Dia Mundial da Limpeza da Água), Srur inaugurou sua nova criação batizada de “As Margens do Rio Pinheiros”. A Ponte Cidade Universitária recebeu o manequim realista de um homem vestido apenas com uma regata e cueca brancas, em um trampolim, parece se preparar para pular no rio. Outras pontes da Marginal Pinheiros receberam intervenções parecidas: também em trampolins, novos personagens representando a população paulistana foram colocados nas pontes Cidade Jardim, Eusébio Matoso e Morumbi.
Como nas duas obras anteriormente mencionadas, a ideia, segundo o artista, é, novamente, chamar a atenção para o problema da poluição nos rios que cortam a capital paulista: “A intervenção mostra o cidadão paulistano observando a sujeira e a inutilidade que infelizmente tomaram conta dos nossos rios metropolitanos”.

Podemos perceber que Srur, um verdadeiro “poeta retocador de paisagens”, continua a levantar reflexões sociais e políticas por meio de sua inquietante arte, despertando no público reações paradoxais, mas que nunca passam em branco: “Eu trabalho com a alteração da paisagem urbana e me interessa o resultado que vai ter no espectador. Desenvolvo meu trabalho pensando na reação do outro, como ele vai reagir… Quero tirá-lo de uma anestesia e fazê-lo refletir, pensar”.

Coluna 5 - Foto 2

Coluna 5 - Foto 3

Coluna 5 - Foto 4

Coluna 5 - Foto 5

Para quem se interessar e quiser saber mais sobre o artista e sua obra, a Editora Bei Comunicação acaba de lançar o livro “Manual de Intervenção Urbana” onde Eduardo Srur comenta suas criações em seus 16 anos de produção artística, gerando uma forma particular e original de engajamento diante da experiência da vida urbana no que ela oferece como expansão ou limite ao transformar a imaginação de seus habitantes.

Coluna 5 - Foto 9

IMG_0245João Carlos Gonçalves (Joca)
Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

Os colunistas do Newronio são professores, alunos, profissionais do mercado ou qualquer um que tenha algo interessante para contar.